Com raras
exceções a vida de quem depende somente de sua arte musical no Rio Grande do
Sul, embora bonita, andarenga e atrativa, é muito difícil. É meio assim tipo
"tosa de porco", ou seja, muito grito e pouca lã.
Tem que matar um leão por dia, correr atrás do
bonde, disputar a tapa um espaço minguado.
Claro que nestes entremeios existe o lado bom.
Viver da arte musical é um privilégio. Fazer do verso sua existência é um dom
para poucos. Tem a vitrine, as amizades, o assédio dos fãs, a admiração de todos
os riograndenses que apreciam a cantoria crioula... Isto tudo é muito lindo mas
o seu preço é alto, ou melhor, o seu preço deveria ser alto pois o que recebem
por alegrar o mundo com seus versejares é irrisório se comparando com a nobreza
de seu trabalho.
O que se paga por espetáculos a artistas do sul em
qualquer evento é um décimo do que recebe qualquer duplinha sertaneja que
desembarca por aqui. Isto quando recebem pois muitas vezes tem que correr atrás
de empresários, patrões de centros de tradições, promotores de
eventos...
E o ECAD? O que o ECAD repassa aos autores e
intérpretes é uma vergonha.
Afora isto, viver na estrada tem aquele "que" de
liberdade mas chega um ponto em que cansa. Mas não tem jeito. Tem que seguir
adiante. Dormindo em ônibus, correndo riscos nestas madrugadas
frias.
O palco é uma coisa, a vida fora dele é outra. A
ribalta é iluminada, colorida, como deveria ser a existência de todos os
músicos. A realidade, no entanto, muitas vezes é cruel.
Por isto eu louvo, admiro, sou fã de quem vive de
cantar, de tocar um instrumento. Por isso tenho inveja daqueles que tem sina de
cigarra e que, mesmo na dor, encontram vasa para decantar suas
desilusões.
Enquanto existir um músico, um cantor, um poeta
regionalista, nativista, galponeiro, campeiro, ou seja lá o terrunho que for, o
Rio Grande velho pode até apodrecer, mas te juro que não cai.
Léo Ribeiro