Quando pediu para o amigo Alex Souza compartilhar o
vídeo da apresentação de dança de uma invernada mirim no dia 20 de setembro, Magno Bittencourt não tinha ideia da repercussão que as imagens poderiam ter.
— Ele (
Alex) perguntou como poderia fazer para me mandar, então eu pedi para ele colocar no Facebook e marcar o
DTG (Departamento de Tradições Gaúchas) — conta.
No dia seguinte, o post já tinha
mais de mil compartilhamentos na rede social. A grande sensação da gravação era uma prendinha que dançava a "música do caranguejo"
cheia de desenvoltura — em uma cadeira de rodas.
Há quatro meses, a filha de Magno, Thaine Bittencourt, de 7 anos, é o xodó da Invernada Mirim do
DTG Porteira Aberta,
de Dois Irmãos. Sem os movimentos da cintura para baixo, ela começou a
dançar de cadeira de rodas incentivada pelos professores Anderson
Cristiano Hack e Carla Luana Prates. Nos ensaios, que acontecem nas
noites de sexta, ela é uma aluna aplicada:
— Se dá seis horas (18h) e eu não cheguei para levá-la, ela me liga e fala assim:
pai, não acredito que tu esqueceu de mim — conta Magno, imitando o jeitinho exigente da menina.
— Os colegas da invernada a aceitam como ela é. A Thaine é a alegria da turma. Onde ela está, sempre tem vários ao redor.
O acidente
Thaine perdeu os movimentos das pernas em um acidente de trânsito
quando tinha um ano e oito meses, durante as férias da família no
município de Três Passos.
— Ela correu para a frente de um carro — resume o pai.
A menina chegou ao hospital da cidade sem fraturas. No entanto,
uma torção na medula a deixou paraplégica.
— Ela tem todos os reflexos das pernas, mas não possui comandos
voluntários. Ou seja, se derem um beliscão na perna dela, ela vai puxar
involuntariamente .
Thaine fez 7 anos em agosto. Foto: Arquivo Pessoal
Na sua rotina semanal, estão incluídas sessões de fisioterapia,
natação e, em breve, terapia. Durante a tarde, ela cursa a primeira
série na escola Professor Arno Nienow. Orgulhosa, a mãe, Rejane Datsch,
conta que Thaine é uma aluna muito inteligente — mas também deixa
escapar que a
menina é um pouco arteira.
— A gurizada do colégio briga para empurrar a cadeira dela. De vez em quando,
dá uns acidentes ou ela "capota" — revela o pai, fitando a pequena, que completa:
—
Mas eu adoro — diz, com um sorrisinho típico de criança que gosta de aprontar.
Duas vezes por ano, Thaine vai a Belo Horizonte para fazer tratamento em um hospital da
Rede Sarah.
Segundo os pais, os médicos não descartam que os avanços da ciência,
especialmente no que diz respeito às pesquisas com células-tronco, podem
fazer com que a menina volte a caminhar.
— Conseguimos esse tratamento com a ajuda de um colega do trabalho. Ela está indo lá para
aprender a se virar — explica o pai, sobre o hospital que é referência em reabilitação.
O próximo objetivo da família é comprar uma cadeira de rodas
motorizada, para facilitar a locomoção na região onde moram, que possui
muitas ladeiras. Assim, Thaine também ganhará mais autonomia.
Quanto aos planos para o futuro, a pequena prenda ainda está um pouco dividida: não sabe se quer
ser dançarina ou manicure. Ou os dois.