Com um discurso emocionado, que exigiu algumas pausas, a representante da
tribo de atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, Tânia Farias, classificou como “terra
sagrada” o terreno da Cidade Baixa onde será construído o Centro Cultural
Terreira da Tribo. A ordem de início das obras foi assinada nesta quarta-feira,
8, pelo prefeito José Fortunati, num ato público que reuniu atores, apoiadores
do grupo, autoridades e os servidores municipais envolvidos no projeto. O
prédio, na esquina da rua João Alfredo com a avenida Aureliano de Figueiredo
Pinto terá três pavimentos, com mezanino, galpão cênico, biblioteca, videoteca,
foyer, cafeteria, loja, banheiros, espaço para teatro de rua e estacionamento
com 25 vagas.
Fortunati lembrou a trajetória do Ói Nóis Aqui Traveiz, criado nos anos 70,
e que se tornou uma referência no cenário internacional do teatro popular pela
inovação, criatividade, pioneirismo e uma certa agressividade, no sentido
positivo. “Estamos realizando um sonho da cultura popular da Capital. É o
reconhecimento ao trabalho desta tribo de atuadores, que leva para todo o Brasil
e para outros países o nome de Porto Alegre. Será uma obra fantástica, um espaço
coordenado pelo grupo, mas aberto a todos, de forma plural, democrática, como
estão acostumados a trabalhar”, afirmou o prefeito. Ele citou o nome de todos os
servidores municipais envolvidos no projeto e destacou que o trabalho foi feito
com amor e muita dedicação.
O terreno foi doado pela prefeitura e o projeto desenvolvido pela equipe da
Divisão de Projetos Prediais da Secretaria Municipal de Obras e Viação (Smov). O
engenheiro João Pancinha, que liderou o trabalho, destacou a transversalidade
entre as secretarias e departamentos municipais para tornar o empreendimento
possível. “Uma cidade e um povo desenvolvido dependem e priorizam a cultura. É o
que buscamos aqui. Porto Alegre vai receber um equipamento qualificado, de
primeiro mundo”, disse Pancinha. O secretário municipal da Cultura, Roque
Jacoby, também citou o trabalho integrado no desenvolvimento do projeto e para
viabilizar a obra, que segundo ele “diferencia Porto Alegre no cenário nacional
do teatro e da arte popular”.
Os atuadores do Ói Nóis Aqui Traveiz agradeceram o empenho de Fortunati e
dos servidores municipais para tirar o projeto do papel. Tânia Farias ressaltou
que sempre teve um canal direto para conversar com o prefeito sobre o Centro
Cultural. “A tribo é um símbolo de Porto Alegre e foi difícil fazer um gestor
dessa cidade reconhecer isso. O Fortunati reconheceu e a Smov abraçou o projeto.
É muito importante isso que está acontecendo. Fazemos arte pública, para a
população, de graça, e por isso precisamos uma sede própria e pública. Começamos
a luta em 1996, e chegamos aqui. Estamos muito felizes!”, concluiu Tânia.
A empresa Frame - Engenharia e Telemática foi a vencedora da licitação.
Serão investidos R$ 6.156.531,84, com recursos provenientes do Ministério da
Cultura (R$ 1,4 milhão) e da Prefeitura (R$ 4,8 milhões). A expectativa é de que
as obras comecem na próxima semana, com conclusão em dezembro de 2017. O espaço
será administrado pelo Ói Nóis Aqui Traveiz. Também participaram do ato o
secretários municipais de Obras, Rafael Fleck, de Meio Ambiente, Leo Bulling, o
diretor-geral do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), Gustavo
Fontana, gestores municipais e servidores.
Ói Nóis Aqui Traveiz - Exibiu seu primeiro trabalho cênico
em 31 de março de 1978, apresentando A Divina Proporção e A
Felicidade Não Esperneia Patati Patatá, duas peças curtas de Júlio Zanotta
Vieira, um dos fundadores, junto com o integrante do grupo Paulo Flores. A
estreia foi em um prédio da rua Ramiro Barcelos, uma antiga boate reformada
pelos próprios integrantes da tribo. Seis anos depois, eles se instalaram na rua
José do Patrocínio, em um galpão a que deram o nome de Terreira da Tribo, local
que denominaram de experimentação e pesquisa cênica. Sempre agindo
coletivamente, tanto na sustentabilidade de sua sede como em suas produções, os
atuadores criaram oficinas gratuitas de teatro livre e fizeram intervenções em
ruas e praças. Durante 11 anos, o grupo habitou a terreira na Cidade Baixa, de
onde saiu para a rua João Inácio, no bairro Navegantes. Atualmente, ocupa um
prédio na rua Santos Dumont, 1186, no bairro São Geraldo.
/cultura /obras /teatro
Texto de: Melina
Fernandes
Edição de: Manuel Petrik
Autorizada a reprodução dos textos, desde que a fonte seja citada.
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