Via Blog Léo Ribeiro
Adoçado com açúcar ou mel, perfumado com canela e jujos (ervas), ou
acrescido de leite, o mate das mulheres era um primor de criatividade e
uma subversão declarada ao chimarrão (amargo) dos homens. Nem os
tradicionais avios eram respeitados, pois a cuia era comumente
substituída por canecas de louça.
A hora do mate, para as mulheres, era o meio da tarde, quando as lides da casa aliviavam, os filhos estavam na escola ou brincando na rua, e os mari¬dos, trabalhando. Elas se juntavam para conversar, ouvir novelas, fazer traba¬lhos manuais, trocar receitas e atualizar as fofocas.
O mate doce nunca vinha só. As mulheres costumavam sentar em roda de uma mesa onde eram servidas, pelo menos, galletas e rapadura de palha. Cucas, broas, bolos e doces caseiros de várias naturezas eram o orgulho das comadres que, ao chegarem de visita, costumavam obsequiar a dona da casa com “‘alguma coisinha boa”.
“A porcelana ligada à tradição gauchesca tem nas cuias para mate doce, tão ao gosto das mulheres, as peças mais representativas. Assim como muitos objetos de metal dos campeiros e peças de uso pessoal (ponchos, palas), as cuias de porcelana eram produções européias que vinham destinadas aos mercados consumidores das áreas sul-rio-grandenses, argentina e uruguaia, da mesma forma como acontecia com relação aos tecidos dos mais diversos. Isto ocorria em decorrência da estrutura comercial existente anteriormente, nos países sul-americanos e em razão de ausência do espírito industrial fabril de nossa gente nos primórdios de sua formação sócio-cultural, como já fizemos referência ao longo desta obra.
Estas peças, as cuias de porcelana, que hoje ocupam prateleiras de colecionadores e vitrinas de museus, variam de formas e tamanho, embora não excedam a dezessete centímetros de comprimento, com uma capacidade de 80 gramas para erva e com uma boca em forma de três centímetros de diâmetro.
As mais singelas eram estreitas (na sua largura) e com uma alça lembrando uma pequena xícara. As mais requintadas apresentavam um pé torneado e um elemento figurativo mitológico como, por exemplo, um anjo de asas semi-abertas ou então outros símbolos artísticos, geralmente humanos, sustentando o bojo do recipiente, destinado a receber a erva-mate. Aliás, frequentemente, este adorno continha flores em alto relevo, delicadas grinaldas, bordos dourados, etc. Em diversas cuias de porcelana liam-se inscrições como: amizade, saúde, amor, felicidade, etc. que pela sua grafia nos leva a acreditar serem, predominantemente outrora fabricadas na França.
Afora estas cuias antigas, de maior significado utilitário e decorativo, a porcelana atual fabricada no Rio Grande do Sul, com fins mais diversificados, resulta de uma mistura de quartzo de feldspato, barro e energia. Da pasta à modelagem, do cozimento à função dos objetos, do emprego de tintas à terminação, ela está fundamentada na cultura teuto-rio-grandense atual, sem maior vínculo estético, ou artístico à arte folclórica gauchesca propriamente dita”.
Para tais cuias pretéritas, exigiam-se bombas relativamente pequenas, proporcionais à peça com chupeta de ouro, lisas, com discretos anéis ou torneadas, na extensão da própria prata ou metal branco. Nas mais requintadas, via-se ao longo do comprimento ajustado à haste da própria bomba figuras de flores, pássaros fixos ao comprido ou inclusive as iniciais da dona da casa, próprio ao manuseio delicado dos dedos femininos.
Sabe-se também pela orabilidade que o mate traduzia simbolicamente uma mensagem poética muda e por vezes amorosa relacionada ao namoro entre os jovens solteiros ou mesmo na roda das comadres no horário da meia-tarde em diante. Alguns mates se faziam acompanhar de jujos, isto é, ervas medicinais.
Resenha de texto de Rosinha Duarte
A hora do mate, para as mulheres, era o meio da tarde, quando as lides da casa aliviavam, os filhos estavam na escola ou brincando na rua, e os mari¬dos, trabalhando. Elas se juntavam para conversar, ouvir novelas, fazer traba¬lhos manuais, trocar receitas e atualizar as fofocas.
O mate doce nunca vinha só. As mulheres costumavam sentar em roda de uma mesa onde eram servidas, pelo menos, galletas e rapadura de palha. Cucas, broas, bolos e doces caseiros de várias naturezas eram o orgulho das comadres que, ao chegarem de visita, costumavam obsequiar a dona da casa com “‘alguma coisinha boa”.
“A porcelana ligada à tradição gauchesca tem nas cuias para mate doce, tão ao gosto das mulheres, as peças mais representativas. Assim como muitos objetos de metal dos campeiros e peças de uso pessoal (ponchos, palas), as cuias de porcelana eram produções européias que vinham destinadas aos mercados consumidores das áreas sul-rio-grandenses, argentina e uruguaia, da mesma forma como acontecia com relação aos tecidos dos mais diversos. Isto ocorria em decorrência da estrutura comercial existente anteriormente, nos países sul-americanos e em razão de ausência do espírito industrial fabril de nossa gente nos primórdios de sua formação sócio-cultural, como já fizemos referência ao longo desta obra.
Estas peças, as cuias de porcelana, que hoje ocupam prateleiras de colecionadores e vitrinas de museus, variam de formas e tamanho, embora não excedam a dezessete centímetros de comprimento, com uma capacidade de 80 gramas para erva e com uma boca em forma de três centímetros de diâmetro.
As mais singelas eram estreitas (na sua largura) e com uma alça lembrando uma pequena xícara. As mais requintadas apresentavam um pé torneado e um elemento figurativo mitológico como, por exemplo, um anjo de asas semi-abertas ou então outros símbolos artísticos, geralmente humanos, sustentando o bojo do recipiente, destinado a receber a erva-mate. Aliás, frequentemente, este adorno continha flores em alto relevo, delicadas grinaldas, bordos dourados, etc. Em diversas cuias de porcelana liam-se inscrições como: amizade, saúde, amor, felicidade, etc. que pela sua grafia nos leva a acreditar serem, predominantemente outrora fabricadas na França.
Afora estas cuias antigas, de maior significado utilitário e decorativo, a porcelana atual fabricada no Rio Grande do Sul, com fins mais diversificados, resulta de uma mistura de quartzo de feldspato, barro e energia. Da pasta à modelagem, do cozimento à função dos objetos, do emprego de tintas à terminação, ela está fundamentada na cultura teuto-rio-grandense atual, sem maior vínculo estético, ou artístico à arte folclórica gauchesca propriamente dita”.
Para tais cuias pretéritas, exigiam-se bombas relativamente pequenas, proporcionais à peça com chupeta de ouro, lisas, com discretos anéis ou torneadas, na extensão da própria prata ou metal branco. Nas mais requintadas, via-se ao longo do comprimento ajustado à haste da própria bomba figuras de flores, pássaros fixos ao comprido ou inclusive as iniciais da dona da casa, próprio ao manuseio delicado dos dedos femininos.
Sabe-se também pela orabilidade que o mate traduzia simbolicamente uma mensagem poética muda e por vezes amorosa relacionada ao namoro entre os jovens solteiros ou mesmo na roda das comadres no horário da meia-tarde em diante. Alguns mates se faziam acompanhar de jujos, isto é, ervas medicinais.
Resenha de texto de Rosinha Duarte