Tenho obrigação, como técnica, como artista e como gente, de dar meu
testemunho e opinar sobre por que é que a Bahia é tudo isso e muito mais.
As pessoas acham que o sol e o céu de lá tem mais azul e dourado do
que aqui, que os artistas e as pessoas são mais alegres, que a música ajuda, a
tradição, a religião, a história, pois a Bahia é abençoada por Deus. Claro que
é, e que o Criador cada vez mais abençoe o Brasil com talentos baianos. Com
certeza! Só que há um investimento e um direcionamento turístico e técnico de
eventos e de valorização da música e artistas locais, com o cuidado de exportar
estes valores. Lembram dos apartamentos do governo baiano no RJ trazendo e
levando artistas para a capital nacional da cultura e da música, para serem
nacionalmente conhecidos, apoiados por ACM , Daniela Mercury é um exemplo desta
aposta nacional. Claro! E vão dizer: 'Mas a Bahia tem Baby do Brasil, Pepeu, Caetano,
Gil e Gal além de Bethânia. Tem sim. Tem Ivete Sangalo e Margareth Menezes,
claro que tem. Mas tem o investimento, a valorização e o incentivo para música,
sem o que nada vinga. Tanto que nossos talentos aqui do Sul, tem de sair da
terra pois temos pouco e cada vez menos incentivo, e não se acredita ainda em
algo que a Bahia e RJ já descobriram há horas. As divisas que vem associadas
aos eventos, à valorização da música e dos talentos da cultura, folclore e arte
locais. E aqui um parêntese. Por que será que já temos 3 kids classificados no
The Voice Kids, Por que os CTG’s, e aí eu ‘bato cabeça para o Movimento
Tradicionalista Gaúcho’ que eu tantas vezes critiquei como machista e sei lá o
que mais, trabalham a cultura, a música
e o canto desde cedo nas suas diversas atividades. Praticamente todos os
valores que estão explodindo no TV Kids tem a ver com Enart e CTGs. Então, está
provada a tese que me fez escrever hoje: Incentivo dá retorno sim! Voltando a
Salvador, fiz um projeto com eles em 98, pelo SICOMRS, o ‘RS Música na Bahia’.
Viajei para lá com Pimentel, meu mestre e companheiro, e propusemos o
intercâmbio com a Bahiatursa, que tinha o gaúcho Zart no comando, para levar
daqui 10 artistas e mais uma produtora para ‘intercambiar’ cultura na festa Nacional
da Música daquele ano, em Salvador. Eles aprovaram na hora! O governo de lá deu
estadia e alimentação e deslocamentos e apoio em tudo, durante mais de 15 dias.
O governo daqui, graças à força do Gilmar Eitelvein, na época coordenador de
música da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre deu as passagens de
ida e volta dos artistas. Levamos, além de Airton Pimentel e eu, Gilberto
Monteiro, Jorge Guedes, Cláudio Levitan, Galileu Arruda e Antônio Villeroy,
além da produtora Ana Lombardi. Experiência incrível e lições de: amor, cuidado
com visitantes, apoio e cultura em todos os contatos. Tínhamos atividades todos
os dias e os produtores nos disputavam para nos levar para todos os eventos e
lugares de cultura, com apoio total do governo do estado da Bahia e de Salvador
e da já citada e amada Bahiatursa. Outra coisa que corrobora o que eu estou
afirmando, Cheguei no hotel 4 estrelas, com piscina, destinado aos gaúchos no
projeto (Gilberto Monteiro ‘assaltava’ o restaurante de madrugada para comer o
delicioso cuscuz de tapioca com coco (manjar dos deuses) e o pessoal assimilava
e ria) . Pois cheguei em Salvador, com os artistas e tive um quarto destinado
para mim e, ao literalmente me jogar na deliciosa cama grande do hotel,
exausta, depois de acomodar todos os outros. Liguei a rádio Cultura de
Salvador, que era a rádio FM do hotel, e o que estava tocando? O quê mesmo?
Banda ‘Barato pra Cachorro’, de Porto Alegre, cantando Noel Rosa. Comecei a
chorar ao ouvir a voz da saudosa e grande cantora Adriana Marques e a banda,
cantando em pleno Salvador. Então, a Bahia dá certo porque investe e respira
cultura e música local e valoriza talentos brasileiros também, tive a certeza.
Embora o vanerão, ritmo gaúcho, nunca tenha estado tão em alta, em toda nossa história,
vide Teló, as moças do sertanejo, Mendonças e Maiaras e todas as duplas, que
hoje faturam em cima do ritmo, qual é a força e incentivo que o governo imprime
para isso fazer a gente ser o que é geograficamente mas não é culturalmente, o
‘coração cultural do Brasil e do Mercosul e um dos mercados mais fortes de
música do Brasil (o 4º, pois antes vem Rio, SP e Minas), Pouco ou nada fazem; Ou melhor, fazem sim.
Fazem 'gol contra', promovendo a extinção da Secretaria Estadual da Cultura e
trabalham para extinguir a TVE, FM Cultura, Fundação Zoobotânica, CORAG,
CIENTEC e outros organismos importantíssimos. O Nordestino, o baiano, com pouco
ou nada fazem todo esse mercado se movimentar e ser autossuficiente com sua
cultura musical e turística, exportando isso para o mundo, inteligentemente. E
nós, com tudo que temos, embora estejamos na moda, com nosso ritmo vanerão,
nacionalmente estourado, estamos ‘dormindo’ literalmente, pois a música gaúcha,
como produto, nunca esteve tão em baixa. Jogo um ‘banho de cheiro’ baiano para
nos tirar da letargia e acordar, neste carnaval, enquanto é tempo, pois nada é
por acaso. Tem muito investimento, dedicação, planejamento e trabalho técnico
direcionado para acontecer. Esta é a lição que a Bahia nos passou e passa todos
os dias. (Izabel L'Aryan)