Reabertura da exposição as
imagens estão nos olhos, as vozes esperam na Galeria
Lunara
Após o
recesso de fim de ano, a exposição as imagens estão nos olhos, as vozes esperam,
de Luane Aires e Rebeca Rasel, realizada pela Coordenação de Cinema, Vídeo e
Fotografia da Secretaria da Cultura de Porto Alegre na Galeria Lunara (5º andar
da Usina do Gasômetro), será reaberta à visitação a partir da próxima
quinta-feira, dia 16 de janeiro. O público poderá conferir a exposição até o dia
2 de fevereiro.
Luane e
Rebeca, ambas residentes no Rio de Janeiro, apresentam, por meio da fotografia e
do vídeo, uma narrativa de paisagens interiores, onde o sentido dos objetos e
frases presentes em cada trabalho se manifesta de forma incidental e indireta,
ou seja, sem recorrer a uma previsibilidade narrativa.
Segundo
Cesar Kiraly, que assina o texto crítico desta exposição, "Poderia ser pensado
que Rebeca Rasel e Luane Aires traduzem algo para um narrador ausente, mas, no
fundo, não é nada disso: a narrativa e o indireto estão nas coisas. A coisa não
se conta: ela agiria. (...) Ora, não é o caso de ter alguém contando, e por isso
não é o caso de fazer um problema do rosto ausente, quando a questão é que,
pelos objetos, ele se conta. E não o faz como alguém que precisa dar explicações
do porquê ainda não fez isso ou aquilo. Mas como um narrador que não se
distingue dos objetos que perde. Está aí (...) Na taça à parede. Nas pernas de
tornozelos finos por detrás das cortinas. Nas mãos. Mas também no
porta-retratos, na cadeira ao lado. Na infidelidade ao fundo. É uma série de
paisagens interiores, de um sem número de seres pendurados (...); (e) o narrador
posto no prego. (...) Rebeca opta pelos enigmas formais e Luane pelos temporais
– ele dizia. Mas ambas são líricas, e se valem de certa outonalidade do
feminino, para tanto. A forma e o temporal são manejados como o estranho. No
caso da forma é a tomada de posição não anatômica para o sentido dos objetos ou
das frases. No temporal é o congelamento. A cena aconteceria em movimento, mas
parada, chove. Nada melhor do que um bom conceito para fazer do narrador um
morador das coisas. Entre um ponto e outro resta o poder de deformação afetiva
das extremidades que se atraem, algo distorcido, algo vibrante – o campo
produzido, de perto."
Luane Aires
é Pós Graduada em
Arte e Cultura pela Universidade Cândido Mendes e Bacharel em Artes Plásticas
pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, frequentou diversos cursos na
Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Participou do 12º Salão de Arte
Contemporânea de Guarulhos. Guarulhos/SP, 2013, no qual recebeu Menção Honrosa
pelo júri técnico e o 10º Salão de Arte Contemporânea de Marília. Marilia/SP,
2013 onde recebeu o Prêmio Referência Especial do Júri. Destacamos ainda Como se
espelhasse alguém, CCJF/ RJ, 2014, I Prêmio MMBH. Belo Horizonte/MG, 2013.
International Video Art Festival VIDEOHOLICA 2013 [OUT OF FOCUS!], edition 6.
Varna Puppet Theatre, Varna/ Bulgária. I Salão de Outono da América Latina-
Galeria L’oeil da Aliança Francesa. São Paulo/SP, 2013. Vênus Terra- Galpão TAC.
Rio de Janeiro/RJ, 2012. Novíssimos 2012- Galeria IBEU. Rio de Janeiro/RJ, 2012.
Rebeca
Rasel é Artista visual, graduada em História da Arte/Licenciatura e mestre
em Artes Visuais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, dentre suas
principais exposições destacamos: Como se espelhasse alguém, CCJF/ RJ, 2014.
Arte Londrina 2/ PR, 2013. 1º Prêmio Moldura Minuto/ BH, 2013. FUTURO Salão de
Arte Contemporânea/ SP, 2013. Assim sem você , Galeria Oscar Cruz/ SP, 2011.
Como o tempo passa quando a gente se diverte, Casa Triângulo/ SP, 2011. Conversa
de Artista Amarelonegro/ RJ, 2011. 17º Salão Unama de Pequenos Formatos/ PA,
2011. 39º Salão de Arte Luiz Sacilotto/ SP, 2011. entre-vistas, EAV Parque Lage/
RJ, 2010. 12º Salão de Artes de Itajaí/ SC, 2010.
As
imagens estão nos olhos, as vozes esperam
Luane
Aires e Rebeca Rasel
Galeria
Lunara (5º andar da Usina do Gasômetro)
Av.
Pres. João Goulart, 551 – Porto Alegre – RS
Visitação,
de 16 de janeiro a 02 de fevereiro de 2014
Texto critico de Cesar Kiraly (Professor de Teoria
Política da Universidade Federal Fluminense/RJ) elaborado especialmente para a
exposição.
– Quem fala?
– alguém quis saber.
Se
pudéssemos dizer assim, escreveríamos que a exposição aborda o indireto pela
fotografia, a necessidade do incidental; talvez fosse reflexo e não abandono,
nem melancolia, poderia ser pensado que Rebeca Rasel e Luane Aires traduzem algo
para um narrador ausente, mas, no fundo, não é nada disso: a narrativa e o
indireto estão nas coisas. A coisa não se conta: ela agiria, assim mesmo, sem
travessão. Então, os pedaços de mulheres e objetos suspensos resistem a resumir
o problema em termos de: ‘para onde se está indo?’ Ora, não é o caso de ter
alguém contando, e por isso não é o caso de fazer um problema do rosto ausente,
quando a questão é que, pelos objetos, ele se conta. E não o faz como alguém que
precisa dar explicações do porquê ainda não fez isso ou aquilo. Mas como um
narrador que não se distingue dos objetos que perde. Está aí [.] Suspenso [.] Na
taça à parede. Nas pernas de tornozelos finos por detrás das cortinas. Nas mãos.
Mas também no porta-retratos, na cadeira ao lado. Na infidelidade ao fundo. É
uma série de paisagens interiores, de um sem número de seres pendurados, lustres
de tamanhos variados, artifícios para o prender janelas ao vento, quadros de
frente e de lado, a pilha de papéis a esquecer o seu leitor na frase ainda
legível. O narrador posto [...] no prego.
Muito se
pensa sobre a forma escrita da imagem ser aquela em que o indireto pode ser
melhor manejado, e tal se deveria ao fato de ser nela em que o narrador, pela
distância, poderia dar beleza aos acontecimentos. O cinema também poderia
fazê-lo, ainda que limitado em comparação com a literária. Se disséssemos que na
fotografia o narrador deveria ser encontrado na objetiva, ou na perspectiva por
ela escolhida, ficaríamos surpresos com, muito embora a feliz especificidade, o
quão reduzida seria a capacidade formal da narrativa. – Trata-se do que é
contado pelo artista – ela concluiria, e isso seria muito pouco. Ainda que a
sequência pudesse ser um artifício, ora, com razão, sentiríamos não ser a mesma
coisa.
Dito isso,
estamos diante de fotografias de duas artistas, que, pensam pelo conceito, em
sua forma mais doce. Isso quer dizer que quando se expressam, estabelecem dois
pontos: um tradicional e outro estranho. O primeiro pode ser a própria
fotografia como suporte, ou o aspecto reconhecível das madeiras do chão ou da
pilha de papel. Há uma confortável referência, que nos faz vulneráveis por
distração, posição da qual brotará o estranho. Sim, tal poderia ser feito sem
ter conceito. Mas notemos que as artistas sabem fazê-lo brotar, o que o provoca
à tona é que os pontos são levados a uma atração, por necessidade, e essa
estabelece alguma tensão para a imagem. Por exemplo, pontos que estabeleçam
distância muito lateral, podem lateralizar o conceito ou interpelar a parte não
conceitual, por oposição. – Rebeca opta pelos enigmas formais e Luane pelos
temporais – ele dizia. Mas ambas são líricas, e se valem de certa outonalidade
do feminino, para tanto. A forma e o temporal são manejados como o estranho. No
caso da forma é a tomada de posição não anatômica para o sentido dos objetos ou
das frases. No temporal é o congelamento. A cena aconteceria em movimento, mas
parada, chove. Nada melhor do que um bom conceito para fazer do narrador um
morador das coisas. Entre um ponto e outro resta o poder de deformação afetiva
das extremidades que se atraem, algo distorcido, algo vibrante – o campo
produzido, de perto.