CASA DO ARTISTA DE PORTAS ABERTAS no JORNAL DO COMÉRCIO
A Casa do Artista rio-grandense está de portas abertas para receber mais histórias. Todo último sábado do mês acontece um sarau, que pretende reunir os mais variados segmentos artísticos. Neste sábado, dia 30, às 16h, ocorre a quarta edição do evento, em parceria com o Sindicato dos Músicos, e tem uma novidade, uma exposição de quadros do marionetista Ubiratan Carlos Gomes. Os artistas da casa participam da programação, fazendo performances em suas áreas de atuação.
No bairro Glória, as paredes da antiga casa localizada na rua Anchieta, 280, têm muitas histórias emocionantes para contar. Desde 1949, artistas das mais diversas áreas e gerações já passaram pelo local. Atualmente, a Casa do Artista abriga 11 moradores, pessoas que marcaram as artes do Rio Grande do Sul e que ainda esperam por novos desafios. Sim, aguardam novas oportunidades, pois não importa a idade quando se tem uma alma artística; a arte não se aposenta.
Há pouco mais de dois anos, quem administra a casa é o jovem ator circense Luciano Fernandes, 37 anos. Com muitos projetos em mente, ele afirma que pretende retomar a casa dentro de uma questão de valorização, já que o local é referência. "Isso aqui é um museu histórico do movimento cultural", declara. Mas é preciso auxílio para tocar o projeto, que necessita de apoio da sociedade. Além de doações, Fernandes solicita "um pouco de amor e carinho para os moradores da casa".
Outro ponto já encaminhado chama-se Artistas conectados, que pretende informatizar a casa e colocar os moradores em contato com o público e outros colegas da classe artística. A sala de informática já conta com seis computadores e, através de uma parceria com o Corag e Senac, as aulas se iniciam no mês que vem.
Lar de muitas histórias
Atores, músicos, radialistas, radioatores, modelos e até o pessoal da parte técnica de rádio e TV fazem parte da turma que vive na Casa do Artista. Entre os 11 moradores, apenas uma mulher está presente no recinto. O bendito fruto, Laís Dias, está na casa há mais de dez anos e comenta, discretamente, que sente falta de uma companhia feminina. Outro companheiro que já pertence ao local há bastante tempo é Wilson Gomes, 70 anos. Com uma voz grossa, Gomes denuncia sua antiga profissão: radioator. Ele traçou uma longa trajetória nas rádios da Capital gaúcha e também em São Paulo, como ator e locutor. Depois de ter sido zelador da Casa do Artista por algum tempo, hoje ele é quem traz vida e cores ao ambiente. O muro da entrada, a sala, os corredores; em tudo estão presentes as coloridas pinceladas de quem hoje tem como terapia e distração as artes plásticas.
Carlos La Porta é um nome que teve grande destaque no Estado e até no País. Começou a carreira artística com apenas cinco anos de idade e trabalhou como ator em rádio, teatro e televisão. Além disso, fez sucesso como modelo fotográfico e de passarela e montou sua própria academia. Hoje com 76 anos, ele mantém a postura intacta e chama a atenção com seus olhos azuis. Afirma que está disposto a continuar: "quero montar minha academia novamente, ainda tenho condições".
Carlos Conde, por sua vez, era um cantor da boemia porto-alegrense e, atualmente, sem as plateias que costumava ter antigamente, segue cantando em seu quarto. Todas as noites, Conde se posiciona em frente ao notebook e acompanha, ao microfone, suas músicas favoritas. Um terceiro Carlos, de sobrenome Silveira Borges, sempre trabalhou na parte técnica de rádios e televisões. Apesar dos 70 anos vividos, continua entusiasmado com os seus aparatos e segue trabalhando com edição de áudio e vídeo.
O mais novo integrante da casa é o ator Sirmar Antunes, com 56 anos, alojado há pouco mais de seis meses. Com muita vitalidade, ele diz estar apenas de passagem, pois muitos projetos profissionais o esperam. Iniciou atuando em teatro e, em 1997, com o filme Lua de Outubro, ganhou espaço no cinema. A partir daí participou de longas como Netto perde sua alma, com o qual ganhou como melhor ator coadjuvante em festivais de cinema, e Os senhores da guerra, de Tabajara Ruas, que estreia ainda este ano.
Paralelamente ao cinema, Antunes retomou a carreira no teatro e está se preparando para a segunda temporada da peça O coração de um boxeador, que esteve em cartaz na Capital recentemente. Ele insiste que a melhor contribuição que se pode dar à Casa do Artista é oportunidade de trabalho. "As pessoas precisam se sentir úteis, pois o artista não deixa de ser artista só por que se aposenta por idade. Precisa se sentir vivo!", enfatiza.
Como ajudar a Casa do Artista
Alimentos, materiais de limpeza e de construção são sempre bem-vindos. Já existem alguns doadores fixos e, com muita divulgação através das redes sociais, cada dia mais a sociedade tem se preocupado em colaborar. Interessados em fazer doações podem entrar em contato pelo telefone (51) 9123-7519 ou, então, realizá-las diretamente via Banrisul (agência 0073, conta-corrente 06.011348.0-8).
Livia Auler, especial JC
CADERNO PANORAMA DO JORNAL DO COMÉRCIO
Foto de Marco Quintana
Porto Alegre, quinta-feira, 28 de junho de 2012