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15 de agosto de 2012

O homem que matou Euclides da Cunha


Dia 15 de agosto marca a data da morte de um dos maiores escritores brasileiros. Foi nesse dia, há 103 anos atrás (em 1909), que Euclides Rodrigues da Cunha faleceu. As circunstâncias em torno da morte do escritor são, no mínimo, polêmicas. Trata-se de um episódio conhecido como Tragédia da Piedade, que já até se transformou em novela da televisão brasileira.

Ana Emília Ribeiro da Cunha. Disputadíssima.
Euclides era casado com Ana Emília Ribeiro da Cunha desde 1890, tendo com elas quatro filhos. Quando nasceu o quinto, Luís, Euclides passou a desconfiar da mulher, pois o garoto era louro, mesmo sendo "filho" de duas pessoas morenas. As suspeitas do escritor não eram infundadas: Ana estava tendo um caso com o cadete (louro) Dilermando de Assis, cerca de 17 anos mais novo do que a mulher de Euclides. As correspondências trocadas entre os amantes confirmaram a traição para Euclides, o que contribuiu para o colapso de seu relacionamento com Ana.

Cadete Dilermando de Assis
As discussões entre o casal (casado) escalaram tanto que, no dia 14 de agosto de 1909, Ana abandonou o lar e, levando os filhos, hospedou-se na casa de seu amante, no bairro da Piedade, Rio de Janeiro. Na manhã do dia seguinte, Euclides apareceu à frente da casa de Dilermando e foi recebido pelo irmão do rival, Dinorah (atleta e jogador de futebol do então clube novo Botafogo). Enquanto isso, sua mulher e filhos escondiam-se na despensa. Ao entrar na casa, o escritor anunciou suas intenções: "matar ou morrer". O autor de Os Sertões sacou sua arma e disparou contra Dilermando. Dinorah, vendo o irmão atingido, procurou retirar o revólver da mão de Euclides, e acabou também sendo baleado. Com o adversário e Dinorah alvejados, Euclides procura retirar-se da casa, mas é atingido pelo tiro de Dilermando antes de passar pelo portão de ferro na frente da residência. Morreu logo depois.

A casa no bairro da Piedade na qual Euclides morreu. À frente do portão, posa para a câmera Dinorah de Assis.
Há rumores de que Euclides teria perdoado a mulher e os filhos enquanto agonizava, mas que se dirigiu a Dilermando com a frase "Odeio-te". O certo é que a tragédia não se encerrou neste dia. Ana e Dilermando casaram-se após a morte de Euclides. Dinorah, o irmão de Dilermando, que fora atingido no dia da morte de Euclides, acabou por ficar paralítico como consequência do dano causado pela bala e, impossibilitado de continuar sua carreira esportiva, suicidou-se anos depois. Em 1916, quando Dilermando dirigiu-se ao Cartório do 2º Ofício da 1ª Vara de Órfãos, no Rio de Janeiro, com o intuito de adotar o filho mais novo de Euclides, foi atacado pelo filho mais velho do escritor e, defendendo-se do agressor, sacou sua arma e matou-o. O detalhe mais interessante é que, mesmo depois de ter matado um dos filhos da mulher, Dilermando continuou casado com Ana Emília até o ano de 1926, tendo com ela cinco filhos.

O casal Ana Emília e Dilermando de Assis
Mas o que isso tudo tem a ver com a gente, com os gaúchos, com o Rio Grande do Sul? Pouco, é verdade.

Exceto o fato de que o homem que matou Euclides da Cunha e o filho que tentava vingar a morte do pai era porto-alegrense - assim como seu irmão, Dinorah, que cometeu suicídio no porto da capital gaúcha.