O vencedor do Prêmio Açorianos de Criação Literária 2013 com o original Ocupa Porto Alegre e Outro Contos, Marcelo Rocha, contou à coordenação do livro, com uma excêntrica descrição, como foi sua trajetória desde a criação dos contos até sua chegada ao Teatro Renascença na noite do livro, onde foi escolhido como o vencedor do Prêmio. Marcelo explica como foi e como está sendo esse recorte premiado da sua vida.
Impressões de meu diário de viagem (vertical) ao
Açorianos - Marcelo Rocha
Foi na carona das
inumeráveis voltas que fazem os caminhos que cheguei ao Açorianos. Foi um longo
percurso. E, claro, não estou me referindo à viagem de quinhentos e noventa e
quatro quilômetros de São Borja, cidade onde moro e trabalho, até Porto Alegre.
Falo de muitas leituras, professores, alunos e salas de aula que me empurraram
até o microfone do Renascença. Tudo isso levou muito tempo. Tempo de
aprendizagens. Mas, nunca andei sozinho. Polifonias, dissonâncias e silêncios me
acompanharam – e me acompanham sempre. Feito tatuagens. Aquelas vozes todas
arrastei ao palco. Antes eu já as havia materializado em livro e, daí, nasceu o
“Ocupa Porto Alegre e outros contos”. Na advertência inicial ao leitor, que faço
na abertura da obra, está lá, escrito: “todas as narrativas que compõem este
livro são reais. Mesmo as que não são, são”. Sim, (quase) tudo é verdade.
Entendi isto também com o tempo: os limites e limiares entre veracidade e
verossimilhança ou entre a mímese e a representação. Decidi, enfim, empreender
meu tempo e atenção ao que me diziam ou tentavam não me dizer, dizendo. Assim,
aprendi com a Poética, aprendi em Capão Pecado, no Memorial do Convento, na
incrível e suave Viagem vertical e com minha filha Mariana, de 9 meses, com quem
também viajo na carona iluminada de cada sorriso. Já fumei com Pedro Juan, tomei
café com o Assis Brasil, enchi a cara com o Hunter Thompson e levei muitos
dribles do velho Joyce, mais liso que o Neymar. Já sofri e chorei lendo Drummond
e o Rui Neves, poeta de Alegrete, ou ouvindo, de longe, o Nei Lisboa transformar
minha cidade natal em música. Mas tenho para mim que foi o Mapa impreciso de
Quintana que me fez chegar ao Açorianos. Um mapa da memória. Na memória-imagem,
reconstruí minha Porto Alegre, das esquinas esquisitas, das nuanças de paredes,
da Lima e Silva, da Osvaldo e da Redenção. Porto Alegre das curvas e dos amores.
Porto Alegre dos ipês e jacarandás. Cidade que amo por estar separado (a
distância é essencial para a sobrevivência dos casamentos). Por fim, ao entrar,
de mão com a Ju, no escuro do Renascença, pensei como um Ulisses ordinário
reencontrando Ítaca: “foi mesmo longa, mas inesquecível esta viagem”. Hoje, em
São Borja, ainda vejo a bailarina girar à eufonia do piano do Nico Nicolaiewsky.
E ouço, também, a Márcia do Canto chamando ao palco um guri, surpreso e
emocionado, e que até pouco tempo (ou nem tão pouco assim), tirava fotocópias
para bancar sua faculdade, para receber o Açorianos de Criação Literária. Ali,
iniciaria outro percurso que, como de costume, não sei quando nem onde vai
parar. Mas, mesmo assim, sigo, e, na bagagem da memória, trago mais vozes,
dissonâncias e silêncios. Notas de viagens. Feito as tatuagens de um velho
marinheiro.
E para dar um leve gosto do que vem por aí no próximo ano, selecionamos alguns trechos diretamente extraídos do original avaliado e premiado pelos jurados do Prêmio Açorianos. Uma prova quentinha do muito que Marcelo Rocha ainda tem pra mostrar:
E para dar um leve gosto do que vem por aí no próximo ano, selecionamos alguns trechos diretamente extraídos do original avaliado e premiado pelos jurados do Prêmio Açorianos. Uma prova quentinha do muito que Marcelo Rocha ainda tem pra mostrar:
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