Postagem em destaque

Gestão 2009 /2014 combina com Gestão 2017/2019 a entrega do Blog e logo do CMC Porto Alegre

Dia 02/07/2019, às 19:30 h em reunião do CONSELHO MUNICIPAL DE CULTURA DE PORTO ALEGRE realizada na Casa dos Conselhos, sito Av. João P...

23 de outubro de 2016

A Multimusicalidade Intercultural na Festa Nacional da Música



- Dilmar Paixão –
(professor, escritor e poeta)

                Um espetáculo de muitos shows em movimentos artísticos diversificados. Porto Alegre viveu dias 17 e 18 out 2016, uma iniciativa ímpar: Fernando Vieira organizou mais uma edição da Festa Nacional da Música. Para quem percorreu o Estado e o Sul do País por muitos anos transmitindo ao vivo os festivais nativistas, desde 1980, esse evento é, sim, singular, principalmente, por reunir artistas na máxima expressão da qualidade, alguns mais novos e outros consagrados inclusive pelo tempo de palco. Além disso, o evento é mesmo uma festa: homenageou, sem concorrerem, mas destacados pelos mais diferentes motivos do trabalho com qualidade nomes aplaudidíssimos como o sempre versátil Luiz Carlos Borges, Carlinhos de Jesus, José Roberto (aquele das marchinhas de carnaval como Cabeleira do Zezé), Luiz Coronel, Sérgio Reis, Paula Fernandes, Roberto Frejar, Grupo Barra da Saia, enfim, Sambistas, Pagodeiros, Regionalistas Gaúchos, Nativistas e uma lista enorme de personalidades do ambiente artístico e cultural brasileiro na música, na letra, na dança e na promoção de eventos do gênero.
A cantora Rosemery - aquele mesma da “jovem” guarda - afirmou convicta: "Este é o único momento de estarmos juntos todos os anos". Neto Fagundes, Cristiano Quevedo, Grupo Tchê Guri, os Serranos, Daniel Torres, todos, foram se sucedendo no palco entregando ou recebendo troféus e trocando de lugar para apresentações rápidas, bem organizadas, qualificadas e muitas improvisadas pelo talento de integrantes de grupos musicais diversificados. Se isso demonstra, mais uma vez, que a música não tem fronteiras nem divisórias, universal como é a sensibilidade, também, a sabedoria artística os diferenciou com pronunciamentos importantes desde o posicionar-se político à convocação para unirem-se e permanecerem próximos e atentos diante das ameaças que atingem a cultura musical, artística e profissional como a outros setores do país.
O poeta Luiz Coronel, das Cordas de Espinho e outros clássicos nativistas, recebeu o troféu destaque da Festa Nacional da Música 2016 das mãos de Vanderleia, outra tradicional representante da MPB – música popular brasileira. Com a posse do seu troféu, ele lembrou a frase de Lima Duarte ao ser premiado no Festival de Cinema de Gramado: “Ganhar um prêmio, uma distinção, é ser representante de uma época, de um grupo, portanto o prêmio não é de um, mas de todos”. Desse modo, minha primeira conclusão é afirmativa de que todos e todas venceram com mais esse momento de convívio e de sucesso das iniciativas simples e organizações edificadas com zelo e competência.
Feitos esses elogios, sem querer apresentar críticas, preciso abordar dois pontos a serem revistos pelos gestores do poder público em todos os níveis se desejarem propor transparência e austeridade nos gastos públicos: a pouca divulgação pelos canais públicos anunciando a festa e o financiamento que, nesses tempos de crise anunciada e real, opta por grandes nomes trocando o endereço dos beneficiários aos quais seriam destinados esses investimentos do setor privado como patrocínio isentado de impostos das verbas públicas. Explico melhor. A rede de televisão educativa, TVE, transmitiu ao vivo, porém das 22 horas a 01 hora do dia seguinte. Outras veiculações foram raras e discretíssimas, provavelmente, sem reapresentações. E a quem deveriam beneficiar as verbas públicas que liberam de impostos as empresas do setor privado que patrocinam esses eventos pelas ditas leis nacional, estaduais e municipais da cultura?
A redundância da palavra “pública” tem interesse direto. Esses grandes eventos promocionais têm patrocínios públicos também. Contudo, o que quero ressaltar é para que os integrantes dos conselhos e os gestores que administram essas possibilidades de autorizações para que os recursos sejam captados percebam que muitas pessoas da sociedade civil organizada e o cidadão comum sabem desse privilégio. Com ele, quais as chances de grupos artísticos menores e de outras manifestações culturais e artísticas ou de artistas amadores e iniciantes receberem verbas para sua arte diante da competição com nomes consagrados?
Enfim, mais um problema agudo que se cronifica na sociedade dos desiguais que sobrevivemos. E muita gente boa fala em cidadania plena e em apoio aos artistas populares e grupos menores. Quantos grupos penam por falta de local de ensaio? Quantos artistas poderiam ser auxiliados na gravação de um primeiro trabalho artístico? Quantos centros culturais como as entidades tradicionalistas e clubes associativos reúnem-se em salas alugadas ou cedidas e não em sedes próprias para os seus funcionamentos? E nem estou falando das verbas para financiamento das atividades educacionais e formativas da cidadania popular.
Há outras situações que precisam exames mais detalhados em seus contextos. Por exemplo, a destinação nos orçamentos oficiais de verbas para emendas parlamentares. Um único parlamentar e seu grupo de apoio decide destinar patrocínio, com dinheiro público, a um ou outro trabalho, uma ou outra instituição, alguma atividade da sua área eleitoral. Isso reduz escolhas coletivas como em congressos e conferências com participação da sociedade.
Soube, por acaso, que Paulo Freire – o educador popular do método construtivista – fazia verso. E, por isso, provocado pelo X Seminário Nacional Diálogos com Paulo Freire, construí um poema regionalista para mostrar que um poeta da Academia Xucra do Rio Grande, a nossa Estância da Poesia Crioula, tem respeito e se comunica com outras escolas acadêmicas e científicas do conhecimento cultural. A interculturalidade, a etnomusicalidade e essa multimusicalidade são, como outras, fontes da expressão livre de quem respeita, integra, interage e dialoga com todas as formas de saber e de manifestações da arte e da cultura viva na sociedade. Aporto a esse campo temático “de outra feita”.

Proseamos mais, noutra data, saudando a generosidade desse espaço que nos concede o Paulo Guimarães sempre apoiador e líder das causas culturais brasileiras, viabilizador desse já tradicional sítio dos Chasques Pampeanos.



Partenon, Porto Alegre, 20 de outubro de 2016 – Dia do Poeta.