Relatório aponta que a proporção das receitas do Estado destinadas à área está abaixo do determinado em lei
Carlos Etchichury | Marcelo Gonzatto
O relatório comparativo, elaborado pelo Sistema de Informações Sobre Orçamentos Públicos em Educação (Siope) do FNDE, mostra que a proporção das receitas do Rio Grande do Sul destinadas à educação foi a menor do Brasil em 2007, 2008, 2009 e 2010 – ano em que apenas o Estado e o Rio Grande do Norte ficaram abaixo do patamar de 25%. Em 2005 e 2006, os gaúchos ficaram na penúltima posição, à frente apenas do Distrito Federal, que, posteriormente, quase dobrou o seu índice.
Em página especial, veja o detalhamento dos investimentos:
Para especialistas e trabalhadores da educação, o baixo índice das
receitas gaúchas direcionado para melhorar a aprendizagem tem reflexo
negativo na qualidade das escolas do Rio Grande do Sul.
– Nós temos diagnosticado vários problemas na educação, como altos
índices de repetência e evasão, o baixo rendimento dos alunos no Ensino
Fundamental, violência nas escolas, e, mesmo assim, não conseguimos
encaminhar soluções consistentes. A educação tem sido relegada ao
segundo plano no Estado – interpreta Helena Sporleder Côrtes, professora
da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (PUCRS).
Aposentadorias entram na conta
Pesquisador e professor da Faculdade de Educação da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Juca Gil acredita que, se os
gastos com os inativos e pensionistas fossem transferidos para educação,
seria possível investir em reformas das escolas, aquisição de
equipamentos, contratação de novos professores.
– A gestão dos recursos também é importante, mas, neste momento, é
secundária. No Estado, para se ter ideia, pais que querem escolas
privadas de qualidade para os seus filhos no Ensino Médio gastam quatro
vezes mais que o governo investe por aluno nas escolas públicas –
complementa o pesquisador.
A diretora do Cpers Neiva Lazzarotto acredita que a escassez de
recursos explica por que o Rio Grande do Sul estaria perdendo posições
para outros Estados, recentemente, na comparação da qualidade de ensino.
– Nos últimos anos nós lideramos a reprovação no Ensino Médio, temos o
pior piso salarial do país. Estamos ficando para trás nos rankings da
educação. Isso tem relação direta com o baixo investimento – afirma.
O secretário estadual da Educação, Jose Clovis de Azevedo, reconhece
que o Estado não consegue investir o que seria ideal, mas sustenta que o
percentual acanhado de verbas em comparação ao praticado pelos demais
Estados não é sinônimo de decadência da qualidade de ensino.
– É preciso que os investimentos sejam dirigidos para a melhoria da
qualidade pedagógica, da capacidade de ensinar dos professores. Também
temos tido aportes importantes do governo federal em áreas físicas, como
bibliotecas, que não são do nosso orçamento – observa Jose Clovis.
A avaliação sobre se o Rio Grande do Sul cumpre ou não a Constituição
– que determina a aplicação de 25% das receitas em educação – não é
unânime. Ocorre que o Siope, sistema ligado ao Ministério da Educação,
entende que nesse percentual não devem ser computados os gastos com
servidores inativos. Porém, alguns tribunais de contas, como o
rio-grandense, tendem a aceitar a inclusão dos valores aplicados em
aposentadorias e pensões na rubrica “manutenção e desenvolvimento da
educação”.
Dessa forma, embora as contas estaduais sejam legalmente aprovadas,
não atendem aos patamares de investimento mínimos estabelecidos pelo
governo federal.