Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heróico um brado retumbante. E o retumbante brado pela independência do Brasil, todos sabem, foi proferido por D. Pedro I, montado em seu belo cavalo, com a espada apontada para o céu, diante da Guarda Imperial: "Independência ou Morte!".
A imagem descrita acima, parte do imaginário popular do povo brasileiro, não é, porém, verossímil. Trata-se de uma romantização de um momento histórico que, ao que tudo indica, não foi tão belo quanto imaginamos que tenha sido.
Conforme o escritor e jornalista brasileiro Laurentino Gomes, a cena foi mais cômica do que épica: D. Pedro montava um animal de carga (provavelmente uma mula), estava vestido como um tropeiro e não com uniforme militar e os dragões da Independência (a guarda de honra) ainda não existiam na época, de modo que as testemunhas tratavam-se de fazendeiros e moradores próximos do local por onde D. Pedro passava. Além disso, há relatos que indicam que o imperador passava mal por ter comido algum alimento estragado, de modo que seu grito histórico foi, provavelmente, proferido de modo nada entusiasmado ou pelo menos incômodo.
Mas pelo menos o quadro de Pedro Américo retratando o episódio é uma forma legítima e romântica de embelezar a declaração, não é? Ou de homenagear o artista francês Jean Louis Meissonier, que pintou a imagem abaixo, na qual retrata Napoleão.
É, mas a história é o leitor quem faz, seja a partir do relato factual ou da fantasia patriota. De qualquer modo, à melhor moda brasileira, o que importa é festejar o aniversário de 190 anos da Independência no dia 7 de setembro. Em Porto Alegre, fará jus à tradição brasileira de celebrar a data quem comparecer à Avenida Loureiro da Silva para participar e assistir ao desfile comemorativo.