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24 de março de 2012

Tempo, dinheiro ou interesse. O que falta para aumentar a frequência em atividades de cultura e lazer?

DA ZERO HORA:
 
Índice de satisfação na dimensão Cultura e Lazer aumenta significativamente quanto mais alta a renda do entrevistado

Taís Seibt
Das 12 dimensões que compõem o IBE — Índice de Bem-estar, uma tentativa de mensurar a qualidade de vida da população na Capital, talvez uma das mais difíceis de interpretar seja Cultura e Lazer. As motivações práticas para que os números revelem um menor ou maior grau de satisfação com a realização de atividades culturais acaba na esfera das especulações: quem tem maior renda tem mais acesso à programação, mas se frustra porque tem pouco tempo para participar? Quem tem menos renda está insatisfeito porque não tem acesso à cultura? Ou o que falta mesmo é interesse por esse tipo de atividade?
— Esta dimensão é menos óbvia do que outras, como hábitos alimentares e bem-estar físico, por exemplo, que oferecem variedade de dados disponíveis no meio acadêmico. É preciso explorar mais as causas para a satisfação ou insatisfação da população com a cultura e o lazer — avalia a pesquisadora Teniza da Silveira, uma das coordenadoras do IBE, criado pela Unimed Porto Alegre e coordenado por pesquisadores da Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Segundo Teniza, é difícil encontrar interlocutores para o tema. Além de fatores socioeconômicos relacionados ao acesso à programação, há questões propriamente ligadas a hábitos de lazer.
— Pode ser que o brasileiro, de uma maneira geral, não tenha grande propensão a consumir cultura, mas também me parece forte a interferência do fator tempo livre — especula a pesquisadora.
Para o coordenador do curso de Economia da Cultura da UFRGS, Stefano Florissi, dois fatores medem forças no que se refere ao consumo cultural no Brasil: por um lado, falta uma política de acesso à cultura mais desenvolvida; por outro, o brasileiro ainda tem pouco hábito de consumir cultura.
— Pelo impacto que uma experiência cultural pode ter na comunidade, seria interessante que o governo estivesse menos envolvido em construir estradas, por exemplo, e mais dedicado a proporcionar cultura — sugere o professor, sem deixar de considerar os limites para o direcionamento do dinheiro público a projetos culturais, quando se tem uma demanda por necessidades mais básicas, como saúde e educação.
Florissi embasa seu argumento na ideia de "tecnologia existencial". A essência do ser é satisfazer suas necessidades em um ambiente de restrições. Tecnologias de existência mais "rústicas" têm um preço social mais alto, quanto mais refinadas as maneiras de se interagir com o mundo, menos destrutivas elas são para a sociedade.
— A cultura pode ajudar as pessoas a refinarem sua relação com o mundo — defende o professor.
Falta de dinheiro não é empecilho
A psiquiatra Eneida Kompinsky discorda da ideia de que a falta de dinheiro seja um empecilho para se fazer alguma atividade ligada à qualidade de vida.
— Temos uma lógica consumista que parece que tudo que a gente faz tem que ser pago, mas tem muitas alternativas, como meias entradas ou atividades na própria comunidade, como entrar em um coral, assistir uma palestra gratuita, fazer um passeio ciclístico — enumera Eneida.
Participar de um coral comunitário foi a opção da analista de negócios Janaína Stürmer Neto. Desde 2009, ela participa do Coral Univozes da Unimed Porto Alegre. Além da voz, o coro oferece todo um trabalho de linguagem corporal, respiração, exercícios de alongamento e relaxamento.
— Isso traz uma qualidade de vida incrível! Fazemos apresentações em hospitais, levando alegria aos pacientes, e esse é o nosso retorno — conta Janaína.
Parques e espaços culturais da cidade também têm programações abertas para quem procura aproveitar o tempo livre com qualidade de vida. No parque da Redenção, por exemplo, professores de educação física da Prefeitura ministram aulas gratuitas de alongamento, ginástica chinesa, ioga e caminhadas orientadas.
— É muito bom ter este espaço, usufruiur essa natureza maravilhosa e ainda tem o convívio com as pessoas, que é muito bom — avalia a servidora pública Adriana Costa, 54 anos, que participa da ginástica chinesa e da caminhada no parque.
A pesquisadora Teniza chama atenção para outro dado revelado pelo IBE: a frequência em parques é maior entre os que praticam alguma atividade física.
— É preciso desenvolver estratégias para atrair a esses locais quem não é ativo — considera Teniza.
O que o IBE revela
:: O índice de bem-estar na dimensão Cultura e Lazer aumenta significativamente quanto mais alta a renda do entrevistado. No grupo de rendimentos mais elevados, o índice quase o dobro em relação ao de mais baixa renda (63,7 para 35,9).
:: Há pouca variação por faixa etária, mas se pode observar uma leve baixa na idade mais economicamente ativa. Entre 25 e 59 anos, em média, o índice é de 49. A partir dos 60, esse indicador sobe para 54,5 e é de 54 também entre jovens de 20 a 24 anos.
:: Há uma diferença significativa do IBE nessa dimensão entre os analfabetos e com pouco estudo (37,9) e os que têm ensino médio (53,4)ou superior (52,4) completos.
Sobre o IBE
A pesquisa Índice de Bem-estar integra o Projeto Bem-Estar Unimed Porto Alegre, lançado em 2009, para sensibilizar médicos, lideranças empresariais, famílias, governos e a sociedade em prol do bem-estar, estimulando práticas benéficas à saúde. O IBE abrange diferentes áreas de conhecimento que têm diferentes entendimentos do que é bem-estar, como medicina, sociologia, educação física, nutrição e psicologia. Na edição 2010, foram 541 entrevistados, 43% homens e 57% mulheres. O estudo avaliou 12 dimensões da vida dos entrevistados: Bem-Estar Psicológico, Convívio Social, Avaliação da Vida, Relação com o Trabalho, Autonomia e Liberdade, Hábitos Alimentares, Bem-Estar Físico, Acesso Básico, Cultura e Lazer, Meio Ambiente, Espiritualidade e Governo.
BEM-ESTAR