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Saiba por que a região vem chamando a atenção do meio por revelar nomes de destaque, como Loos, Patê e Tchesko
Da esquerda para a direita, MC Patê, MC Felipinho, MC Negão, MC Paty, MC Tchesko e MC Loos
Foto:
Lívia Stumpf / Agencia RBS
Há mais de 30 anos no meio, o DJ Cassiá, da Rádio Cidade (92.1 FM), aponta alguns motivos para o surgimento de tantos talentos na Zona Leste. Primeiro, o investimento e atenção da produtora Tropa de DJs, que dá uma bela garimpada nas gravações dos jovens, preparando as canções e os funkeiros para o mercado:
– Eles passam por uma triagem, por uma preparação de gente que entende. E saem fortes – explica.
Depois, Cassiá lembra que a região se diferencia das demais da cidade por sua geografia:
– Dá uma aparência, um ar de Rio de Janeiro, a torna um pouco diferente das demais. Tem aquela coisa de ter muito som na rua, da galera com seus radinhos portáteis, ouvindo funk. Isso tem muito no Rio. Essa situação me lembra do início dos anos 1990, quando estouraram nomes como o Bonde do Tigrão, na Cidade de Deus. Eu ia ao Rio seguido e era radinho bombando, outros carros com o porta-malas levantado, coisa muito parecida com o que acontece por aqui – comenta Cassiá.
Exemplo de profissão bem sucedida
Cassiá analisa que o sucesso de funkeiros que cresceram na comunidade estimula pequenos MCs a seguirem o mesmo caminho, fugindo das tentações de entrar para o mundo do crime, por exemplo:
– Hoje, o funk virou uma profissão bem sucedida. Existem MCs daqui ganhando bons cachês, R$ 8, 10 mil. E esses caras são vizinhos, da própria comunidade, a gurizada vê o crescimento deles. E, com isso, o funkeiro consegue comprar uma bicicleta melhor, veste uma roupa legal. Isso faz com que outros tenham esse interesse de seguir no meio – explica Cassiá.
Quando pequeno, Fabricio Oliveira, 20 anos, adorava pichar a parede da casa, no Morro da Cruz. De tanto pichar, ganhou dos amigos e parentes o apelido, de brincadeira, de lost (perdido, em inglês). Em uma ocasião, para marcar o apelido, pretendia pintar um moletom com os dizeres. Mas faltou tinta e acabou ficando Loos. Para virar um apelido definitivo, foi um passo. Em 2009, começou a investir no funk.
– A gente procura passar realidade, não temos nenhum tipo de ostentação. É o que sou – afirma Loos.
Hoje, seu principal sucesso é Vai Vendo, com mais de 600 mil visualizações.
Nome de gringo, funk bem gaúcho
De cara e de nome, é difícil afirmar que ele é funkeiro. Franccesco Finizio, 26 anos, mas conhecido no meio do funk como MC Tchesko, é o grande expoente do gênero no Rio Grande do Sul. Agenda lotada, mais de 20 shows por mês números que superam impressionantes 17 milhões de acessos no youtube com o clipe É Bem Assim que a Gente Tá. O sobrenome "importado" é por conta do avô, que veio de Napoles, na Itália. A trajetória do MC vem de 2006, quando ele integrava o grupo Arrastão do Funk.
Em 2007, decidiu seguir carreira solo. De lá para cá, Tcheko começou a ganhar destaque no funk, chegando ao topo com É Bem Assim que a Gente Tá e hoje mora na Praia Grande, na Baixada Santista, em São Paulo. Mesmo assim, não esquece das origens:
– Me criei na Vila Erechim, mas meu começo foi na Zona Leste, meus primeiros bailes foram ali. É uma família para mim – comenta Tchesko.
Adepto do chamado funk consciente, com letras, que tem como destaque a canção Dias de Glória, Tchesko ainda se destaca por transitar muito bem em outros gêneros, bem distintos do funk. O funkeiro já gravou músicas com o grupos Eh Expresso, NovoExtima e Novament´s, por exemplo:
– Sempre ouvi vários estilos, isso ajudou a também gravar com grupos de outros estilos. Gosto muito de charm, quero misturá-lo com funk, fazer um clipe dançante – explica o MC.
Seu próximo passo é pra lá de ousado: pretende gravar um clipe no Exterior.
Com Patê, é funk preto no branco
Se falarmos em George Richard Oliveira Fernandes no Bairro Bom Jesus, fica difícil saber quem é. Agora, é só falar em MC Patê que a coisa muda de figura. O guri, 23 anos, que começou no funk no começo dos anos 2000, investe em um funk que fala do seu dia e fez seu primeiro show, acredite se quiser, em uma garagem:
– Tinha uma dupla, era MC Patê e MC Dedé, comecei na época dos bondes. E meu funk sempre foi "preto no branco". E me orgulho de fazer sucesso com as crianças. Eles sentem que a gente é um exemplo, é legal para elas ter caras como a gente em sua comunidade. Esses dias, veio uma menina de Gravataí bater aqui em casa para me entregar uma carta, pedir autógrafo – revela o funkeiro.
Atualmente, sua principal canção atende pelo curioso título de Brabo é Boi e vira bife, cuja música já passou de 159 mil visualizações no youtube.
– Eles estão se espelhando na gente, isso é legal. Dá para ver que a criançada quer um negócio legal para o seu futuro – comenta Patê.
A ousadia fica com ele
Representante de um funk mais ousado, Felipe Cavalheiro Cardozo, o MC Felipinho, 21 anos, nasceu para o mundo do funk no Morro da Cruz. Ele lançou um vídeo na internet que reapidamente se espalhou pela comunidade. Atualmente, seu grande hit é a sugestiva Baba Ele Todinho. Bem articulado, o funkeiro, além de shows em bailes tradicionais de funk da Capital, também começa a alcançar um mundo bem interessante para os músicos: o de eventos:
– Andam surgindo uns convites, é um público diferente, e muito legal_ comenta o funkeiro, dono de cerca de 590 mil acessos. O guri já mobiliza fãs fora da comunidade. Recentemente, ele lembra, uma fã veio de Gravataí para tirar fotos com ele, na sua casa.
– Foi demais! – recorda.
Inspirados nos ídolos, surgem novos nomes
No meio de gente grande, começam a surgir novos nomes. Depois de algum tempo andando com Felipinho, Loos e Tchesko, surgiu MC Paty. A guria, do Morro da Policia, se inspirou ao ver que os amigos começaram a fazer sucesso e também foi estimulada por eles:
– Eu sempre quis cantar funk, e faltava uma MC por aqui. Ter visto eles foi fundamental – relembra Paty.
Em uma geração mais nova ainda, está o MC Negão, 10 anos, que canta desde os oito. Na entrevista, é tímido. No palco, porém, ao cantar seu hi, Vai Chover Nota de 100, solta a voz:
– Já participei de eventos com ele. É uma "briga" para tirá-lo do palco, ele é super assediado – atesta Cassiá
– Sempre me inspirei neles todos, e no Guimê, claro – afirma o pequeno funkeiro.