A Comissão de Educação, Cultura, Desporto,
Ciência e Tecnologia realizou audiência pública, na tarde dessa sexta-feira
(25), para debater estruturação da pedagogia Griô no Rio Grande do Sul, conforme
o projeto de lei 1786/2011, de iniciativa popular, que tramita no Congresso
Nacional para implantação da tradição oral. Coordenado pelo deputado Catarina
Paladini (PSB), o encontro foi realizado no Espaço da Convergência Deputado Adão
Pretto. No inicio do debate, mestres Griô realizaram uma apresentação com
instrumentos e canto.
Uma proposta para estruturação da pedagogia Griô
no RS foi entregue a Catarina, que deve protocolar projeto de lei na Casa. A
pedido dos representantes Griôs e pela importância do assunto, o parlamentar
também irá sugerir à Assembleia convite para a vinda da ministra da Cultura,
Ana de Hollanda.
Manifestações
O secretário adjunto da Secretaria de Estado da
Cultura, Jéferson Assumção, ressaltou a importância da criação de instrumentos
de políticas culturais para o Estado e para o Brasil, como os Pontos de Cultura,
Ação Griô, políticas de desenvolvimento, manifestações populares e de
identidades. Jéferson salientou que o debate demorou a chegar no RS com a força
que se desenvolveu em outros estados. Por fim, afirmou que a Secretária estará
junto dos movimentos sociais e da Assembleia sobre a discussão da Lei Griô.
Após a fala do secretário, foi apresentado um
vídeo explicando como foi elaborada a Lei Griô, desde sua criação até a entrega
no Congresso Nacional.
O coordenador Nacional da Ação Griô e mestre
Griô, Márcio Caires, contextualizou a história de um menino humilde que estudou
para se tornar juiz e que, após adquirir esse conhecimento de vida, passou a
transmitir o que ouviu de seus pais e avós, contando o que chamou de “grande
linha do tempo”. Para ele, isso é o Griô, transmitir experiências através da
forma falada. Márcio relatou que os primeiros passos para a criação da lei
iniciaram em 2005, tendo a participação de mais de 600 organizações até a
entrega do projeto em Brasília.
Andila Kaingang, coordenadora do Ponto de Cultura
e representante do Povo Kaingang, destacou a importância dessa lei para os povos
indígenas, que, segundo ela, estão perdendo sua cultura, principalmente no que
diz respeito à língua. A indígena disse ser fundamental o ensino diferenciado
nas escolas Kaingangs para a preservação de sua cultura. Para Andila, “um povo
sem história, é um povo sem futuro”.
Representando os Griôs do RS e Brasil, Mestre
Paraquedas destacou a importância que representa o Griô no desenvolvimento das
pessoas e parabenizou o debate que ocorreu na Assembleia, que, conforme
salientou Paraquedas, contou com a presença de representantes de diversos
estados do Brasil.
Mestra Doci, representante da Secretaria de
Cultura da Paraíba, afirmou ser gratificante estar participando do debate no RS
e agradeceu aos gaúchos. Segundo Doci, a Ação Griô é o calor das pessoas,
caminhar, bater em porta e ir para todos os cantos em busca de pessoas que
entendam o valor e o sentido dessa tradição.
Sirlei Amaro, representante da Ação Griô de
Pelotas, contextualizou a lei no Estado. Ela relatou que a Ação Griô lhe
proporcionou a contar para as crianças histórias que viveu e ouviu no
passado.
O educador pedagógico Wander de Paula, ao
ressaltar a importância da pedagogia Griô, destacou a necessidade de se manter a
história viva dentro de ambientes formais de educação.
Mestre Alcides, do Conselho Nacional dos Griôs e
Mestres da Tradição Oral, traçou um diferencial entre a Lei dos Mestres e a Lei
Griô, salientando, também, a importância desta última por estar diretamente
ligada à educação formal.
Representando o Ministério da Cultura – Regional
Sul, Carla Ribeiro manifestou sua solidariedade ao movimento pela lei no Rio
Grande do Sul, destacando a necessidade de apoio de toda a classe política.
O presidente da Nação Hip-Hop Brasil, Mano Oxi,
destacou que a aprovação da Lei Griô é o começo para se reverter o grande índice
de extermínio de jovens no país, especialmente de pardos e negros,
proporcionando o resgate de seus valores, através da conscientização
ancestral.
Também manifestaram apoio à aprovação da Lei Griô
no RS Maria Odete Santos, do Grupo UniRaças, de Esteio; Maria Eunice, presidente
da Sociedade Floresta Aurora, de Porto Alegre; a pedagoga Pérola Sampaio,
representando o senador Paulo Paim (PT/RS); o professor Pernambuco, do Movimento
Quilombista Contemporâneo; e Antônio Matos, representando o Conselho Municipal
de Cultura.
Durante a solenidade, ainda foi lida uma carta da
representante do Departamento de Educação e Desenvolvimento Social da UFRGS,
Rita de Cássia Camisolão, lamentando por não poder estar presente ao encontro e
manifestando total apoio à implementação da lei.
Texto: Cynara Baum e Renato Annes
Edição: Asscom Sedac