Multiplicam-se os grandes espetáculos que vêm ao país mas não passam pela Capital
"Nederlands Dans Theater" não retornará à Capital este ano
Foto:
Jason Akira / Divulgação
Fábio Prikladnicki
Uma das mais expressivas companhias de dança contemporânea do mundo, a
Nederlands Dans Theater I (NDT) apresenta-se no final de junho no Rio e
em São Paulo. O grupo holandês esteve em Porto Alegre em 2001, mas não
volta desta vez.
É a confirmação de um quadro que começa a ser percebido pelo público e é confirmado por produtoras culturais: Porto Alegre está cada vez mais distante da rota dos grandes espetáculos internacionais de dança.
Uma destas empresas é a Dell'Arte Soluções Culturais, responsável, este ano, pela vinda do grupo holandês e de atrações como a companhia de balé do Teatro alla Scala de Milão, o Nuevo Ballet Español e o Les Ballets de Monte-Carlo. Nenhum desembarcará no Aeroporto Salgado Filho. A Capital dançou em 2012? Steffen Dauelsberg, diretor-executivo da Dell'Arte, afirma:
– Verificamos nos últimos três ou quatro anos uma perda de possibilidades de captação local (no RS) através das leis de incentivo estadual e municipal, o que não é o caso de capitais como Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro. Nós e a iniciativa privada não podemos ser os únicos a assumir os riscos de uma empreitada como essa.
Dauelsberg explica que turnês desse porte são viabilizadas com patrocínio de empresas por meio da lei federal que permite a dedução do valor investido na hora em que a empresa paga seus impostos. Ainda segundo ele, é praxe contar com a parceria de produtoras locais para captar verba por meio de leis de incentivo à cultura de âmbito regional. Entre as produtoras parceiras, está a Opus Promoções.
– Estamos na ponta de um país muito grande. É difícil viabilizar estas turnês somente cobrando ingresso. Chegar ao Estado requer mais horas de voo e de carreta. Embora nossos teatros sejam maravilhosos, têm capacidades limitadas. Com 500 lugares na plateia a menos do que uma casa em Curitiba, o produtor vai optar por esta última – diz Carlos Konrath, diretor da Opus.
A escassez de espetáculos internacionais de dança é um fenômeno que completa pelo menos 10 anos, de acordo com Maria Rita Stumpf, sócia-gerente da Antares, produtora responsável pela passagem do NDT pela Capital há 11 anos:
– Acho que se deve à localização dos teatros em Porto Alegre, que não são centrais, à dificuldade para obter patrocínios locais e à falta de interesse dos produtores locais em espetáculos dessa natureza, que basicamente dependem de empresários de Rio e São Paulo, onde também houve grande redução, com exceção de alguns festivais.
Maria Rita conta que a Antares, antes especializada em dança, começou a trabalhar mais com música e diminuiu o número de eventos por ano a partir de 2008. Com exceções como o sucesso de público de Mikhail Baryshnikov e Ana Laguna, em 2010, a produtora viu um Teatro do Sesi com apenas 60% de sua lotação, em 2004, na apresentação da companhia de Merce Cunningham, uma lenda da dança contemporânea.
– O público de dança em Porto Alegre é sofisticado, curioso e, em geral, bem informado – observa, ressalvando: – Há necessidade de difusão da dança para gerar mais público, não somente através da imprensa, mas também da educação formal e da ação de organismos locais de cultura.
Enquanto isso, os artistas da área lamentam a perda de oportunidades para tomar contato com o que se produz de melhor no cenário internacional. O coreógrafo e coordenador do Centro de Dança da Secretaria de Cultura de Porto Alegre, Airton Tomazzoni, ressalta o crescente papel de festivais como Porto Alegre Em Cena, Palco Giratório e Dança Ponto Com na inclusão de atrações de ponta na agenda local e pondera:
– O cenário da dança se transformou. Se está perdendo uma parcela dessas grandes referências (as companhias internacionais), outras surgiram como cursos universitários de dança, projetos como o Grupo Experimental de Dança da Cidade e o acesso proporcionado pela internet a muita informação de dança que dificilmente chegaria ao artista interessado.
O QUE VOCÊ NÃO VIU
Louise Lecavalier: Estrela canadense com passagem pelo grupo La La La Human Steps, esteve no Brasil em 2006.
Bill T. Jones: O artista americano esteve na Capital em 2002, mas não em 2006, quando retornou ao país.
Cia. Martha Graham: A Capital não recebeu em 2005 o grupo que leva o nome da lendária coreógrafa americana.
O QUE VOCÊ NÃO VAI VER
NDT I: Com técnica impecável, o grupo holandês é referência internacional na dança contemporânea.
Balé do Scala de Milão: Tradicional companhia italiana que contou com lendas da dança como Balanchine e Nureyev.
Nuevo Ballet Español: Criada em 1995, a companhia se destaca pela modernização da tradição do flamenco.
É a confirmação de um quadro que começa a ser percebido pelo público e é confirmado por produtoras culturais: Porto Alegre está cada vez mais distante da rota dos grandes espetáculos internacionais de dança.
Uma destas empresas é a Dell'Arte Soluções Culturais, responsável, este ano, pela vinda do grupo holandês e de atrações como a companhia de balé do Teatro alla Scala de Milão, o Nuevo Ballet Español e o Les Ballets de Monte-Carlo. Nenhum desembarcará no Aeroporto Salgado Filho. A Capital dançou em 2012? Steffen Dauelsberg, diretor-executivo da Dell'Arte, afirma:
– Verificamos nos últimos três ou quatro anos uma perda de possibilidades de captação local (no RS) através das leis de incentivo estadual e municipal, o que não é o caso de capitais como Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro. Nós e a iniciativa privada não podemos ser os únicos a assumir os riscos de uma empreitada como essa.
Dauelsberg explica que turnês desse porte são viabilizadas com patrocínio de empresas por meio da lei federal que permite a dedução do valor investido na hora em que a empresa paga seus impostos. Ainda segundo ele, é praxe contar com a parceria de produtoras locais para captar verba por meio de leis de incentivo à cultura de âmbito regional. Entre as produtoras parceiras, está a Opus Promoções.
– Estamos na ponta de um país muito grande. É difícil viabilizar estas turnês somente cobrando ingresso. Chegar ao Estado requer mais horas de voo e de carreta. Embora nossos teatros sejam maravilhosos, têm capacidades limitadas. Com 500 lugares na plateia a menos do que uma casa em Curitiba, o produtor vai optar por esta última – diz Carlos Konrath, diretor da Opus.
A escassez de espetáculos internacionais de dança é um fenômeno que completa pelo menos 10 anos, de acordo com Maria Rita Stumpf, sócia-gerente da Antares, produtora responsável pela passagem do NDT pela Capital há 11 anos:
– Acho que se deve à localização dos teatros em Porto Alegre, que não são centrais, à dificuldade para obter patrocínios locais e à falta de interesse dos produtores locais em espetáculos dessa natureza, que basicamente dependem de empresários de Rio e São Paulo, onde também houve grande redução, com exceção de alguns festivais.
Maria Rita conta que a Antares, antes especializada em dança, começou a trabalhar mais com música e diminuiu o número de eventos por ano a partir de 2008. Com exceções como o sucesso de público de Mikhail Baryshnikov e Ana Laguna, em 2010, a produtora viu um Teatro do Sesi com apenas 60% de sua lotação, em 2004, na apresentação da companhia de Merce Cunningham, uma lenda da dança contemporânea.
– O público de dança em Porto Alegre é sofisticado, curioso e, em geral, bem informado – observa, ressalvando: – Há necessidade de difusão da dança para gerar mais público, não somente através da imprensa, mas também da educação formal e da ação de organismos locais de cultura.
Enquanto isso, os artistas da área lamentam a perda de oportunidades para tomar contato com o que se produz de melhor no cenário internacional. O coreógrafo e coordenador do Centro de Dança da Secretaria de Cultura de Porto Alegre, Airton Tomazzoni, ressalta o crescente papel de festivais como Porto Alegre Em Cena, Palco Giratório e Dança Ponto Com na inclusão de atrações de ponta na agenda local e pondera:
– O cenário da dança se transformou. Se está perdendo uma parcela dessas grandes referências (as companhias internacionais), outras surgiram como cursos universitários de dança, projetos como o Grupo Experimental de Dança da Cidade e o acesso proporcionado pela internet a muita informação de dança que dificilmente chegaria ao artista interessado.
O QUE VOCÊ NÃO VIU
Louise Lecavalier: Estrela canadense com passagem pelo grupo La La La Human Steps, esteve no Brasil em 2006.
Bill T. Jones: O artista americano esteve na Capital em 2002, mas não em 2006, quando retornou ao país.
Cia. Martha Graham: A Capital não recebeu em 2005 o grupo que leva o nome da lendária coreógrafa americana.
O QUE VOCÊ NÃO VAI VER
NDT I: Com técnica impecável, o grupo holandês é referência internacional na dança contemporânea.
Balé do Scala de Milão: Tradicional companhia italiana que contou com lendas da dança como Balanchine e Nureyev.
Nuevo Ballet Español: Criada em 1995, a companhia se destaca pela modernização da tradição do flamenco.
ZERO HORA