via blog Coordenação do Livro e Literatura
Andávamos por entre as prateleiras da Biblioteca Municipal Josué Guimarães,
que - não por acaso - fica logo acima de onde trabalhamos, quando
involuntariamente, sem querer (querendo), chutamos a estante dos poetas gaúchos.
Dela caiu um livro amarelo desbotado, escrito em letras editoriais antigas: o
Cancioneiro da Revolução de 1835, de Apolinário Porto Alegre. A
edição não somente rendeu esse pequeno post, como também uma nova seção
destinada a livros caídos das prateleiras. O compromisso é um: chutar a estante
atrás de mais escritores gaúchos e denunciá-los aqui para a apreciação coletiva
- para o gosto (e gozo) compartilhado.
Começamos então com o fundador republicano da
Sociedade Partenon Literário. Com o fundador (e por que não?) da seção
Chute na estante, do blog da CLL.
"Poesia popular: Reuni sob esta denominação as
poesias colhidas da tradição oral do povo rio-grandense.", assim abre o livro o
poeta rebulicano. Constituindo-se dos acervos de poesia popular que restaram da
Revolução Farroupilha, a obra discute, através de dois manuscritos de
Apolinário, a litertura oral e identidade literária do Rio Grande do Sul de
quase dois séculos atrás.
Como a nossa passagem é rápida e rasteira, sem mais delongas, deixemo-nos levar pelos versos da Revolução o mais brevemente possível:
À PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
O dia doze de Setembro
Foi um dia soberano,
Foi no Seival que soou
O grito republicano.
ÀS FARROUPILHAS
Esta que aqui vos fala
É constante liberal,
Oprimida, perseguida
Pela corja galegal.
Mais vale uma farroupilha
Que tenha uma saia só,
Do que duas mil camelas
Envoltas em ouro em pó.
A BENTO MANUEL RIBEIRO
(Sátira gaúcha)
Pode um altivo humilhar-se,
Pode um teimoso ceder,
Pode um pobre enriquecer,
Pode um pagão batizar-se,
Pode um avarao prestar-se,
Um lascivo confessar-se;
Pode o mouro ser cristão,
O arrependido salvar-se,
Tudo pode ter perdão,
Só o - Bento Manuel - não.
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Ó do inferno terrível instrumento,
Bento!
Dos tiranos a cópia mais fiel,
Manuel!
Lá no inferno te aguardam qual primeiro,
Ribeiro!
Com um montão de chamas, um braseiro,
Bento Manuel Ribeiro!
Chute a estante você também:
Cancioneiro da Revolução de 1835
Apolinário Porto Alegre
Apresentação e notas por Lothar Hessel
Companhia União de Seguros Gerais, 1981.
* Disponível na biblioteca municipal Josué Guimarães