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26 de outubro de 2012

DEPOIMENTOS SOBRE TATATA PIMENTEL


Depoimento de Márcia Ivana de Lima e Silva

Ele era um gênio. Em muitos sentidos. Daqueles que sabe de cor passagens inteiras de romances... em francês; que cita com propriedade regras de português; que diferencia as versões de óperas. Foi com esta fascinação que conheci Tatata Pimentel, lá no final dos anos 80, quando compartilhamos diversas aulas no Pós-Graduação em Letras da PUCRS, junto com Ivo Bender. Para mim, era tudo descoberta e aprendizado, e, muitas vezes, eu não sabia quem me ensinava mais: a professora, Tatata ou Ivo.
Quando ele chegava, preenchia todos os espaços com sua presença, sua sabedoria, sua espontaneidade, sua gargalhada e sua voz inconfundíveis. Sua irreverência e sua ironia também eram marcas de gênio.
Depois que deixamos de ser colegas, sempre que nos encontrávamos era uma festa, e ele se lembrava com detalhes de nossas aulas. No ano passado, fomos júri do prêmio Açorianos, e me senti reportada àqueles anos 80 em nossa reunião: a mesma euforia produtiva de quando estudávamos os textos para serem discutidos em aula. Agora me dou conta: como era bom ser aluna ao lado do Tatata e do Ivo.
Agora me dou conta de que não o encontrarei mais nem na Cultura, nem em lançamentos, nem na Feira, nem nos Cafés, nem em júris. Agora me dou conta de que restará apenas a lembrança de sua voz recitando Proust.


Depoimento de Lucas Reis Gonçalves - Coordenação do Livro e Literatura

Duas, três salas de distância de onde vinham, ainda dava pra escutar os comentários fe-no-me-nal-men-te pronunciados - quase gritados - do nosso padrinho louro e de cavanhaque ligeiramente escuro. Os excêntricos que vão me desculpar, mas verdadeiramente excêntrico, honesta e sinceramente excêntrico, era o Tatata. Começando pelo nome.


Depoimento de Walter Galvani

Conheci o Tatata quando ele era menino, com seus 17 anos, num dos encontros com a família do seu pai, Alcyr. Me tornei amigo não só dele, mas de suas irmãs também. Acompanhei toda a carreira dele. Todos os momentos importantes até agora: seus estágios, suas atividades na cultura - tudo. Era um maravilhoso professor e incentivador da cultura. Tanto é verdade que hoje apresentei uma moção ao Conselho Estadual da Cultura, do qual sou membro, que registra a perda que ele significará com o seu falecimento para a cultura e para o jornalismo. Serei o portador responsável pela entrega do ofício a sua família. Essa manifestação retrata nossa preocupação: vamos precisar de uma meia dúzia de "Tatatas" para substituí-lo.

Foto: TVE Bom Dia Gaúcho/CP Memória



Depoimento de Juli Saul Antunes - Coordenação do Livro e Literatura.

Hoje, a Coordenação do Livro e Literatura está mais silenciosa.
Muitos vão falar de sua inteligência rara, de sua perspicácia e sagacidade, de seu senso de humor refinado, de sua imensa cultura.
Mas, por favor, nos deem licença. Vamos falar do amigo Tatata Pimentel.

Jurado do Prêmio Açorianos em 2010 e 2011, Tatata conquistou cada um da equipe da CLL.
No Festival de Inverno o ano passado, ministrou um curso de quatro dias sobre uma das suas maiores paixões: Ópera.
Disputávamos quem seria o seu assessor no curso. Todos queriam assistir o professor em ação.
Foram muitas tardes junto com o mestre. Antes, durante e depois do curso, ele nos visitava, trazia óperas para assistirmos, dava conselhos aos mais jovens e contava histórias do que viveu em Porto Alegre e no mundo.
Foi nesse ano que ganhou o cobiçado e imaginário prêmio de “Amigo da CLL”!

Durante do Festival de Inverno de 2012, comentamos que a sabedoria e a alegria do Tatata estavam fazendo falta. Suas frases marcantes – adotadas como bordões por toda a equipe – eram repetidas exaustivamente.

No início desse mês, começamos a pensar a Noite do Livro de 2012. Tínhamos a missão de achar um apresentador para o evento. O nome do Tatata foi unanimidade entre nós!

Nessa terça-feira, o coordenador Márcio (quem Tatata conhecia desde criança) ligou para ele com duas missões: lembrá-lo do lançamento do livro do amigo Claudinho Pereira no próximo sábado e convidá-lo para ser o mestre de cerimônias da entrega do Prêmio Açorianos de Literatura.
Tatata confirmou a presença e topou trabalhar com a gente novamente! Antes de desligar, prometeu nos visitar essa semana.

A visita não veio.
A tarde de hoje será sem graça e sem histórias.
Mas, o amigo Tatata sempre será uma lembrança FE-NO-ME-NAL para todos nós!



Depoimento de Renato Rosa

Aperte o play!

Chansooon d´amouuuurrrr...ratatatatata
Assim ele chegava cantando a letra da música do "The Manhatan Transfer" e vinha à mesa da gente...no Butikin já na década de 70...mas éramos amigos e da primeiríssima geração do Butikin.

Uma pena, nem imaginem o quanto lamento.
Na última vez que estivemos juntos achei-o muito abatido, magrinho, velhinho, acabadinho mesmo e...sem humor.
Imaginem o Tatata sem humor. Impraticável!! Já não era ele.
Foi na missa de sétimo dia do Felipe Oppenheimer....saímos da igreja Santa Teresinha e fomos tomar um café no Mercado ali em frente.
Na verdade ele estava deprimido, solitário, sem confessar, evidentemente achava-se abandonado, sem valor...foi a dispensa da televisão.

Nosso mundo agora fica definitivamente menos culto e alegre.
Gente como nós, guardaremos as melhores lembranças dele.
Sei de histórias memoráveis de Tatiboy!!!!!
Éramos amigos desde 1963, logo que voltou da Europa e África.
Na anteantepenúltima vez que nos vimos e falamos demoradamente foi em seu apartamento - confessou-me que havia doado em testamento sua biblioteca para a Universidade de Santa Maria, cidade onde nasceu - e à saída, retirou da parede um desenho do Fuhro, fez uma dedicatória no verso da moldura e me entregou.
Já era uma despedida.
Cultíssimo como poucos, uma cultura vivida, vívida e assimilada...e, muitas vezes, com ele bem diria: regiamente repartida.

O meu telefone não parou um minuto - desde as 20h - não consegui terminar a minha salada noturna...aliás, consegui agora, três horas depois.
Pena, um talento absoluto.
A legítima perda irreparável...e eu o chamava (brincando pois a intimidade
permitia) de palhaço eletrônico...rsrsrs...
Estou muito sentido, por isso dividir a minha tristeza com vocês, saibam: morreu um dos homens mais cultos – sem exagero e em todos os tempos – do Rio Grande do Sul.
O Tatata que me deu o "Sketchs of Spain" do Miles Davis, a primeira pessoa a me falar de Marcel Proust (sua paixão, que devorou ene vezes e no original!!!), o Tatata que me fez ouvir Stockhausen (O canto dos meninos na fornalha), o Tatata com quem tomei um porre ao vivo e a cores no Chez Dudu certa noite com a diva Sarah Vaughn que cantarolava só para nós dois; o Tatata que amanheceu comigo numa da incontáveis noites butikinescas e ele e eu de mãos dadas com a Alaíde Costa que cantava só para nós a "Bachiana nº 5" do Villa Lobos; e a mais memorável de todas as noites: em seu apartamento, Paulo Gracindo recitando poemas, Clara Nunes fazendo vocalizes e cantando coisas de Minas...enquanto tomávamos um conhaque à beira da lareira, ele, um amigo e eu...ele, Tatata, inesquecível para sempre.
Bjs.

Hebe Camargo, Tatata Pimentel, Berenice Otero e Renato Rosa
Foto: Rubens Borges, BD, 15/9/1973 - Blog Almanaque Gaúcho/ZH


Depoimento de Schari Kozak - Coordenação do Livro e Literatura

Tatata em "Ópera em 4 Atos"
Tive a oportunidade de conviver um tempinho com o Tatata na época em que trabalhei na Coordenação do Livro. Que pessoa incrível, assustadoramente inteligente. Todo encontro mantinha os olhos e os ouvidos atentos para não deixar passar nada... ele era sempre instigante, surpreendente.
Fuçando os arquivos encontrei esse vídeo gravado durante o curso Ópera em 4 Atos ministrado por ele durante o 7º Festival de Inverno.


Descanse em paz, Tatata. Desejo com todo o meu carinho e admiração.







Depoimento de Márcio Pinheiro - Coordenador do Livro e Literatura

Foi ontem a última vez que conversei com Tatata Pimentel. Liguei para a casa dele - já que dificilmente conseguia falar com ele por celular. Atendeu ao primeiro toque.

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Nos poucos mais de dois a
nos em que estou à frente da Coordenação do Livro, poucas pessoas ficaram tão identificadas com o nosso trabalho quanto ele. Por duas vezes, nos deu a honra de ser jurado. E, no ano passado, no Festival de Inverno, foi o responsável por um dos cursos mais animados e inteligentes que o público de Porto Alegre pôde presenciar. Nas constantes visitas que fez à CLL, sempre reafirmou sua marca de exuberância e inteligência. Os mais jovens perderam um ídolo, de quem constantemente repetiam gestos e expressões.

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Minha intenção ao telefonar para ele era tratar de dois assuntos: lembrar do lançamento do livro do Claudinho Pereira, em que ele é um dos personagens mais presentes, e convidá-lo para ser o apresentador do Prêmio Açorianos, em dezembro. Me pareceu feliz com as duas propostas. Disse que iria no lançamento e aceitou o convite, prometendo que passaria lá na coordenação nos próximos dias. Antes, como me explicou, precisava resolver duas questões mais urgentes: cortar o cabelo e acertar os detalhes finais da viagem que faria à Europa na semana que vem. Despediu-se animado, mandou lembrança aos meus pais - como sempre fazia - e confirmou a visita. Infelizmente, não teve em tempo. Vai em paz, Tatata.