Porto Alegre é banhada por 496 km² de água provenientes da bacia.
G1 conversou com trabalhadores que vivem ao redor do Guaíba.
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Cheguevara Moreira mudou de cidade para trabalhar no Guaíba (Foto: Luiza Carneiro/ G1)
Com 27 anos, Cheguevara Moreira acredita que já realizou um dos seus
maiores sonhos. O jovem natural de Tapes, Região Metropolitana de Porto
Alegre, cresceu em uma comunidade de pescadores e cultivou desde cedo o
desejo de virar marinheiro. Com a meta em mente, se mudou para a capital
para aprender todos os macetes na Marinha Mercante. Assim como o
gaúcho, outras centenas de pessoas vivem à beira do Guaíba, um dos
cartões postais do Rio Grande do Sul. No mês em que se comemora a
importância da bacia, o G1 conversou com trabalhadores que têm a rotina dedicada as águas turvas.Vidas como a de Cheguevara se misturam à correnteza da principal bacia hidrográfica do Rio Grande do Sul. O complexo de rios que formam o Guaíba representa boa parte do território gaúcho e é alimentado pelos rios Jacuí, Sinos, Caí e Gravataí. A cidade sempre esteve culturalmente ligada às águas, sendo por muitos anos o principal canal para a chegada dos imigrantes e da economia do estado. Com a criação dos catamarãs, que fazem a travessia de pedestres entre a capital e Guaíba, o marinheiro “Che” encontrou uma oportunidade para colocar a técnica em prática. “Faz dois anos que trabalho aqui e sou muito feliz. Jamais conseguiria viver longe da água”, conta, entusiasmado.
Antonio Corrêa trabalha há 15 anos
como 'guardião' de Porto Alegre
(Foto: Eurico Sales, Divulgação/Concepa)
Porto Alegre é banhada por 496 km² de água, um volume de cerca de 1,5
bilhão de metros cúbicos. E é ali, de cima de uma pomposa torre
envidraçada de 43 metros que Antonio Corrêa desfruta o poder de ser o
guardião das entradas de navios e barcos na cidade. Ele é o responsável
pelo içamento do vão móvel da Ponte do Guaíba, atividade passada pelo
pai Avelino. “Eu trabalhava como motorista e ele me chamou para
trabalhar aqui. Disse que seria mais estável”, conta Antonio, há 15 anos
no ofício.como 'guardião' de Porto Alegre
(Foto: Eurico Sales, Divulgação/Concepa)
Seu Avelino era operador da Ponte na década de 1970, responsável por ligar Porto Alegre ao sul do Rio Grande do Sul, e ensinou para o primogênito a atividade. Cálculo e precisão fazem parte da rotina. “Muitos barcos passam raspando”, lembra o filho entre risos. “Meu pai já viu algumas colisões. Tudo tem que estar cronometrado”, dá a dica.
Muitos mitos e histórias rondam as correntezas do Guaíba. Cheguevara lembra que, quando criança, familiares costumavam assustá-lo com o “redemoinho do Guaíba”. “Falavam que redemoinhos de água apareciam do nada e afundavam barcos de pescadores, fazendo todo mundo desaparecer”. No entanto, sem medo das lendas, o marinheiro prefere a beleza do Guaíba à noite. “O céu fica muito estrelado, é lindo de se ver. Não tenho medo de tomar banho nele, não. Sempre me lavo aqui no Cais”, conta apontando para o local onde os catamarãs costumam ficar atracados.
Embora seja fonte de inspiração de poetas e músicos, poucos porto-alegrenses constroem laços reais com as águas, principalmente por estar imprópria para banho. A orla, no entanto, ganha diariamente novos adeptos ligados aos esportes e ao turismo. É comum passar pelo Cais do Porto, Usina do Gasômetro e Avenida Beira-Rio e encontrar moradores caminhando, andando de bicicleta ou se exercitando. Na Zona Sul da cidade, o Veleiros do Sul e o Clube dos Jangadeiros reúnem velejadores e praticantes do stand-up paddle.
“Eu sempre fui uma moradora das ilhas do Guaíba, por isso sempre estive muito ligada a ele”, revela Ligia da Graça Dias, de 60 anos, proprietária do barco de turismo Noiva do Caí. Ela herdou o negócio do marido já falecido, que foi quem lhe apresentou a magia do local. Ali, guia curiosos pelo Rio Jacuí, canal Maria Conga e Rio Caí, acabando o passeio pelo Cais do Porto. “A empresa já existe há 40 anos. Meu marido, quando vivo, construía os barcos com o irmão”, afirma com orgulho. Entre as muitas histórias que guarda na memória, a melhor lembrança é dos “belos turistas que vinham de São Paulo”. “Quando era moça trabalhava na copa do barco. Era uma diversão só. Sempre brincavam comigo perguntado se a ‘gauchinha’ estava à venda!”, acha graça.
Lago Guaíba banha Porto Alegre e outras cidades da Região Metropolitana
(Foto: Luiza Carneiro/ G1)
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