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29 de novembro de 2012

Moradores de Porto Alegre têm a vida dedicada às águas do Guaíba

Porto Alegre é banhada por 496 km² de água provenientes da bacia.
G1 conversou com trabalhadores que vivem ao redor do Guaíba.

Luiza Carneiro Do G1 RS
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Cheguevara Moreira mudou de cidade para trabalhar no Guaíba (Foto: Luiza Carneiro/ G1)Cheguevara Moreira mudou de cidade para trabalhar no Guaíba (Foto: Luiza Carneiro/ G1)
Com 27 anos, Cheguevara Moreira acredita que já realizou um dos seus maiores sonhos. O jovem natural de Tapes, Região Metropolitana de Porto Alegre, cresceu em uma comunidade de pescadores e cultivou desde cedo o desejo de virar marinheiro. Com a meta em mente, se mudou para a capital para aprender todos os macetes na Marinha Mercante. Assim como o gaúcho, outras centenas de pessoas vivem à beira do Guaíba, um dos cartões postais do Rio Grande do Sul. No mês em que se comemora a importância da bacia, o G1 conversou com trabalhadores que têm a rotina dedicada as águas turvas.
Vidas como a de Cheguevara se misturam à correnteza da principal bacia hidrográfica do Rio Grande do Sul. O complexo de rios que formam o Guaíba representa boa parte do território gaúcho e é alimentado pelos rios Jacuí, Sinos, Caí e Gravataí. A cidade sempre esteve culturalmente ligada às águas, sendo por muitos anos o principal canal para a chegada dos imigrantes e da economia do estado. Com a criação dos catamarãs, que fazem a travessia de pedestres entre a capital e Guaíba, o marinheiro “Che” encontrou uma oportunidade para colocar a técnica em prática. “Faz dois anos que trabalho aqui e sou muito feliz. Jamais conseguiria viver longe da água”, conta, entusiasmado.
Antonio Corrêa trabalha há 15 anos como 'guardião' de Porto Alegre (Foto: Eurico Sales)Antonio Corrêa trabalha há 15 anos
como 'guardião' de Porto Alegre
(Foto: Eurico Sales, Divulgação/Concepa)
Porto Alegre é banhada por 496 km² de água, um volume de cerca de 1,5 bilhão de metros cúbicos. E é ali, de cima de uma pomposa torre envidraçada de 43 metros que Antonio Corrêa desfruta o poder de ser o guardião das entradas de navios e barcos na cidade. Ele é o responsável pelo içamento do vão móvel da Ponte do Guaíba, atividade passada pelo pai Avelino. “Eu trabalhava como motorista e ele me chamou para trabalhar aqui. Disse que seria mais estável”, conta Antonio, há 15 anos no ofício.
Seu Avelino era operador da Ponte na década de 1970, responsável por ligar Porto Alegre ao sul do Rio Grande do Sul, e ensinou para o primogênito a atividade. Cálculo e precisão fazem parte da rotina. “Muitos barcos passam raspando”, lembra o filho entre risos. “Meu pai já viu algumas colisões. Tudo tem que estar cronometrado”, dá a dica.
Muitos mitos e histórias rondam as correntezas do Guaíba. Cheguevara lembra que, quando criança, familiares costumavam assustá-lo com o “redemoinho do Guaíba”. “Falavam que redemoinhos de água apareciam do nada e afundavam barcos de pescadores, fazendo todo mundo desaparecer”. No entanto, sem medo das lendas, o marinheiro prefere a beleza do Guaíba à noite. “O céu fica muito estrelado, é lindo de se ver. Não tenho medo de tomar banho nele, não. Sempre me lavo aqui no Cais”, conta apontando para o local onde os catamarãs costumam ficar atracados.
Embora seja fonte de inspiração de poetas e músicos, poucos porto-alegrenses constroem laços reais com as águas, principalmente por estar imprópria para banho. A orla, no entanto, ganha diariamente novos adeptos ligados aos esportes e ao turismo. É comum passar pelo Cais do Porto, Usina do Gasômetro e Avenida Beira-Rio e encontrar moradores caminhando, andando de bicicleta ou se exercitando. Na Zona Sul da cidade, o Veleiros do Sul e o Clube dos Jangadeiros reúnem velejadores e praticantes do stand-up paddle.
“Eu sempre fui uma moradora das ilhas do Guaíba, por isso sempre estive muito ligada a ele”, revela Ligia da Graça Dias, de 60 anos, proprietária do barco de turismo Noiva do Caí. Ela herdou o negócio do marido já falecido, que foi quem lhe apresentou a magia do local. Ali, guia curiosos pelo Rio Jacuí, canal Maria Conga e Rio Caí, acabando o passeio pelo Cais do Porto. “A empresa já existe há 40 anos. Meu marido, quando vivo, construía os barcos com o irmão”, afirma com orgulho. Entre as muitas histórias que guarda na memória, a melhor lembrança é dos “belos turistas que vinham de São Paulo”. “Quando era moça trabalhava na copa do barco. Era uma diversão só. Sempre brincavam comigo perguntado se a ‘gauchinha’ estava à venda!”, acha graça.
Lago Guaíba banha Porto Alegre (Foto: Luiza Carneiro/ G1) 
Lago Guaíba banha Porto Alegre e outras cidades da Região Metropolitana
 
 (Foto: Luiza Carneiro/ G1)
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