O romance Neptuno, de Leticia Wierzchowski, é
finalista do Prêmio Açorianos de Literatura 2012 na categoria Narrativa
Longa. |
Neptuno (Record, 2012), romance da
escritora porto-alegrense Leticia Wierzchowski, é finalista do Prêmio
Açorianos de Literatura 2012 na categoria Narrativa Longa. Ao lado de
Outonos de fogo, de Marcel Citro, e entreilha, de Rafael Reginato,
também finalistas da respectiva categoria, Neptuno é o décimo segundo
romance da autora.
Atenção à capa: ela fala, por si só, pela
trama. Curiosa e sutilmente espirrada de sangue, parece desenhar o clássico
órgão símbolo do amor - o coração. E é ele o responsável por conduzir a história
de amor, de ciúmes (e do crime) que constrói a narrativa. Nela, o advogado Key
passa a viver uma vida que não é sua, com problemas que não são os seus, com
emoções que não eram as suas. Quando é contratado pelo filho de um grande
amigo seu - rapaz que confessou ter praticado crime terrível -, Key se vê
mergulhando numa espécie de viagem intelectual e, mesmo que alheia, emocional.
Uma viagem mais que profissional.
Pra deixar o leitor com uma pulga atrás da
orelha, a se perguntar sobre a distinta trama de Neptuno, Leticia dá voz
a uma terceira personagem, June, a sua Lolita, e não poupa-nos sua
ilustração:
Uma descrição detalhada de June deveria começar pelos seus olhos. Azuis. Redondos como moedas. Olhos de um ávido azul, para ser mais claro. Esses dois globos oculares estavam encravados nos zigomas de uma faze alongada, bronzeada de sol. E June tinha sardas, minúsculas sardas douradas que pareciam pó de ouro. A boca era carnuda, cor de romã, e escondia pequenos dentes brancos e afiados. Dentes que tinham deixado a sua marca no braço de M., o desenho oblongo e pontilhado, arroxeado e estranho como um hieroglifo desconhecido de alguma civilização há muito esquecida.