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14 de novembro de 2012

Naquele Tempo... Entenda o que foi a Revolta da Chibata

O movimento deu fim à prática do açoite nos navios brasileiros e também condições dignas de trabalho aos marinheiros


Zé Maria prende o comandante do navio e o leva para o porão (Foto: Lado a Lado / TV Globo) 
No dia 22 de novembro de 1910, o Rio de Janeiro foi palco de um episódio que entrou para a história do Brasil: a Revolta da Chibata, liderada pelo marinheiro negro João Cândido, que pôs fim à prática de castigos físicos na Marinha brasileira.
O estopim da rebelião foi o açoitamento do marinheiro Marcelino Rodrigues Resende, com 250 chibatadas, por ter se envolvido em uma briga à bordo na noite anterior ao conflito. Indignados com a brutalidade do castigo, os marujos deram início à rebelião. Após derrotar os oficiais dos navios em combate e assumir o controle das embarcações, o comando rebelde enviou pelo rádio uma mensagem ao governo em que exigia o fim da chibata.
Caso não fossem atendidos, iriam bombardear a capital federal e os navios leais ao governo. Em advertência às autoridades, os amotinados dispararam tiros de canhão em direção à cidade, provocando, além de prejuízos materiais, a morte de duas crianças.
Chico recebe a mensagem: A Revolta vai começar (Foto: Lado a Lado/Tv Globo) 

O Rio de Janeiro amanheceu sob a mira dos canhões dos navios rebeldes Minas Gerais, São Paulo e Bahia, que navegavam na Baia de Guanabara com bandeiras vermelhas tremulando para sinalizar a adesão à revolta. Como ainda não existiam meios modernos de comunicação, a população foi surpreendida pelas notícias publicadas nos jornais sobre as consequências do motim durante a madrugada, em que morreram civis e militares. Temendo os combates, milhares de pessoas deixaram a cidade, mas uma parte da população se aglomerou em morros e áreas próximas às praias para acompanhar o rumo dos acontecimentos.
Diante do impasse em que se encontrava o governo do Marechal Hermes da Fonseca, que não tinha apoio popular e força bélica para enfrentar o poder de fogo dos navios rebeldes, que eram os mais modernos da esquadra brasileira, setores da oposição enviaram aos navios o deputado federal José Carlos de Carvalho, que conversou com os líderes da revolta. Durante as negociações, o parlamentar constatou as péssimas condições de trabalho dos marinheiros, relatando-as durante a sessão do Congresso que discutia como o governo devia resolver a situação. Além disso, trouxe a público a carta com as reivindicações dos marinheiros: abolição da chibata, soldos maiores, melhores condições de trabalho e anistia aos envolvidos no movimento.
Vontade de lutar por dias melhores
 A insatisfação dos marujos com as condições de trabalho e os castigos corporais vinha do período imperial. Em diversas ocasiões os praças solicitaram melhorias e protestaram contra os maus-tratos. Desde a proclamação da República, o uso da chibata foi proibido por lei, mas um regulamento interno da Marinha deu suporte para a continuidade do açoitamento nos navios. Em maio de 1910, João Cândido reivindicou ao então presidente da República, Nilo Peçanha, que a lei que aboliu a chibata fosse cumprida, mas não foi atendido e organizou a rebelião.
Sob a pressão dos marinheiros e da oposição, o governo cedeu e enviou uma lei proibindo a chibata e anistiando os rebeldes para aprovação do Congresso Nacional. Vitoriosos, eles devolveram os navios e comemoram aos gritos de "Viva a liberdade!".
No entanto, dias após o fim do episódio, o governo traiu o acordo e desencadeou uma onda de repressão, com expulsões e prisão de centenas de marinheiros. Haveria ainda uma segunda rebelião dos marinheiros, que resultou na prisão e tortura de João Cândido, da qual falaremos em outro artigo.
Por Luciane Reis
rede globo