O movimento deu fim à prática do açoite nos navios brasileiros e também condições dignas de trabalho aos marinheiros
O estopim da rebelião foi o açoitamento do marinheiro Marcelino Rodrigues Resende, com 250 chibatadas, por ter se envolvido em uma briga à bordo na noite anterior ao conflito. Indignados com a brutalidade do castigo, os marujos deram início à rebelião. Após derrotar os oficiais dos navios em combate e assumir o controle das embarcações, o comando rebelde enviou pelo rádio uma mensagem ao governo em que exigia o fim da chibata.
Caso não fossem atendidos, iriam bombardear a capital federal e os navios leais ao governo. Em advertência às autoridades, os amotinados dispararam tiros de canhão em direção à cidade, provocando, além de prejuízos materiais, a morte de duas crianças.
Diante do impasse em que se encontrava o governo do Marechal Hermes da Fonseca, que não tinha apoio popular e força bélica para enfrentar o poder de fogo dos navios rebeldes, que eram os mais modernos da esquadra brasileira, setores da oposição enviaram aos navios o deputado federal José Carlos de Carvalho, que conversou com os líderes da revolta. Durante as negociações, o parlamentar constatou as péssimas condições de trabalho dos marinheiros, relatando-as durante a sessão do Congresso que discutia como o governo devia resolver a situação. Além disso, trouxe a público a carta com as reivindicações dos marinheiros: abolição da chibata, soldos maiores, melhores condições de trabalho e anistia aos envolvidos no movimento.
Vontade de lutar por dias melhores
Sob a pressão dos marinheiros e da oposição, o governo cedeu e enviou uma lei proibindo a chibata e anistiando os rebeldes para aprovação do Congresso Nacional. Vitoriosos, eles devolveram os navios e comemoram aos gritos de "Viva a liberdade!".
No entanto, dias após o fim do episódio, o governo traiu o acordo e desencadeou uma onda de repressão, com expulsões e prisão de centenas de marinheiros. Haveria ainda uma segunda rebelião dos marinheiros, que resultou na prisão e tortura de João Cândido, da qual falaremos em outro artigo.
Por Luciane Reis
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