Tem gente que só de molhar a sola da bota já
fica doido, pê da vida. E tem. Muita gente. Mal sabe essa gente, gente de sorte,
da vida boa que tem: não teve de presenciar a úmida época de guerra e de
enchente dos anos quarenta da capital gaúcha. E põe úmida nisso.
Na nossa
Breve História de Porto Alegre
(
Editora da Cidade, 2012), o historiador
Charles
Monteiro sintetiza em poucas linhas o que foi esse momento único na memória
da cidade de Porto Alegre:
Entre abril e maio de 1941,
choveu sem parar em Porto Alegre e as águas do Guaíba subiram mais de quatro
metros e meio além do nível normal. O Centro da cidade ficou inundado e só era
possível deslocar-se nele usando barco. Os bairros mais atingidos foram Cidade
Baixa, Menino Deus, Azenha, Santana, Floresta e Navegantes. A enchente deixou
cerca de 40 mil pessoas desabrigadas. As autoridades montaram postos de
atendimento para acolher flagelados e vacinar milhares de pessoas contra o tifo,
varíola e difteria. Os cinemas fecharam, os trens pararam e houve muita
dificuldade em abastecer a população de água potável e alimentos. As chuvas
cessaram a partir da metade do mês de maio e as águas foram descendo lentamente.
A Revista do Globo fez uma cobertura fotográfica especial da grande
enchente com cenas impactantes de bairros inteiros cobertos pelas águas e de
famílias com crianças pequenas dormindo em alojamentos coletivos criados pela
prefeitura. A enchente ficou na memória dos porto-alegrenses. (...) Nos anos
1970, seria construído um sistema de diques e um muro na avenida Mauá para
controlar os efeitos das cheias do Guaíba.
E pra ilustrar um
pouco do que o autor falou, mergulhemos, enfim, nas imagens:
|
Mercado Público (e úmido) de
Porto Alegre. |
|
O Memorial do RS e a Praça da
Alfândega sob a água. |
|
O Guaíba engolindo a Praça da
Alfândega. |
|
O Cais do Porto
mergulhado. |
|
O Centro sobre o espelho da
água. |
|
A ambulância que ficou pra
trás. |
|
Os flagelados no
abrigo. |
|
O único veículo que ainda
funcionava era o barco. |
|
A Praça da Alfândega e o Cinema
Central - que parou de funcionar. |
|
A ilha chamada Mercado
Público. |
|
Barcos que vinham do Porto para
auxiliar os atingidos. |
|
A Prefeitura Municipal com a
água quase na porta. |
|
O centro e o Guaíba - uma coisa
só. |