Zero Hora:
Diego Lopes concorre ao prêmio Açorianos na categoria compositor pop com álbum que remete à obra de Ben Folds Five
Integrante
da banda Acústicos & Valvulados, Diego Lopes concorre ao Prêmio
Açorianos na categoria Compositor por seu trabalho solo
Foto:
Luis Fernando Martins / Divulgação
Gustavo Brigatti
O ouvido atento de um fã do cantor Ben Folds identificou semelhanças entre as canções do músico norte-americano e as faixas de Diego Lopes & Bebop, álbum solo do compositor e instrumentista Diego Lopes, baixista da banda Acústicos & Valvulados.
O Segundo Caderno ouviu o trabalho de Lopes e o disco de estreia de Ben Folds e sua banda, Ben Folds Five, de 1995, e ainda um dos álbuns solo do músico, Songs for Silverman (2005), e notou pontos semelhantes entre eles, a começar pelos títulos de algumas músicas, como Por Onde Anda Ana P.? e Where's Summer B., Polca e The Last Polka, Vídeo e Video e ainda Nocaute e Boxing. Algumas letras também apresentam a mesma temática e trechos iguais, como Philosophy, em que Ben Folds escreve "Go ahead you can laugh all you want / I got my philosophy ("Vá em frente, você pode rir o quanto quiser / Eu tenho minha filosofia", em tradução livre), enquanto Lopes, em Minha Teoria, canta "Pode rir o quanto quiser / Eu tenho a minha teoria".
Para comparar: confira canções e trechos de letras do álbum "Diego Lopes & Bebop" e do músico americano Ben Folds.
As coincidências entre as duas obras seguem na parte instrumental. O Segundo Caderno enviou as faixas de ambos os discos para especialistas, que ouviram as músicas e emitiram comentários a respeito. Segundo o professor titular de Composição Musical da UFRGS, Celso Loureiro Chaves, há "semelhanças e identidades de melodia, forma, estrutura, harmonia, arranjo e letras/ideias poéticas entre as canções".
– Não há problema algum nisso, desde que o autor especifique claramente de onde vieram suas ideias e identifique sem rodeios quem é o modelo que está na superfície do seu trabalho – pondera Chaves. – Neste caso, semelhanças e identidades passariam como homenagem, releitura, recriação, transliteração. Mas se o responsável pelas canções não tiver feito isso, a discussão sairá do campo musical para o campo jurídico, pois da homenagem à cópia o passo é muito pequeno.
No material gráfico do disco de Lopes, indicado ao Açorianos de Música como compositor na categoria pop, não há qualquer menção a Ben Folds. No encarte, consta que "Todas as músicas por Diego Lopes exceto Por Onde Anda Ana P.? por Diego Lopes e PJames". Procurada pela reportagem, a gravadora Sony Music, responsável pelo catálogo de Ben Folds, afirmou que não foi pedido nenhum tipo de autorização para utilização da obra do músico norte-americano.
O diretor artístico da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa), Tiago Flores, que também ouviu os dois trabalhos, afirmou que "a coincidência é impressionante":
– Dá para dizer que as músicas foram baseadas na banda Ben Folds Five. Ritmo e melodia seguem o mesmo padrão.
Para o advogado e professor da Faculdade de Direito da UFRGS, Fabiano Menke, em casos como este é preciso verificar em que medida a música de um artista esconde fragmentos de outra já existente.
– Caso um pequeno fragmento de uma música antiga sirva de inspiração para uma música nova, ficando bem claro para quem escuta que se trata até mesmo de uma lembrança ou uma homenagem à música antiga, não haverá plágio, pois não há a intenção de ocultar a criação de outra pessoa – explica.
Autor do disco, Diego Lopes alega que não houve intenção de fazer um trabalho semelhante ao de Ben Folds. Segundo ele, o seu jeito de compor lembra o de Folds e de outros artistas, como Paul McCartney e Elton John, utilizando como base baixo, piano e bateria. Daí as composições terem ficado semelhantes.
– É uma semelhança de formato. Assumo que há uma influência primordial, então acho que, inconscientemente, isso transparece. Mas em nenhum momento copiei a música do cara – garante. – Alguma coisa de resolução de harmonia é muito provável que seja parecido, porque, no universo pop, a originalidade é uma coisa restrita, praticamente todas as convenções de harmonias nos últimos, sei lá, cem anos, já foram utilizadas.
Sobre as letras terem trechos parecidos e até o mesmo nome, Lopes alega coincidência:
– Vídeo é uma história que um amigo meu falou, de que quando a gente morrer o que vai sobrar da gente é um vídeo, uma foto, que são as lembranças que se têm. Daí, quando compusemos a música, acabamos chamando ele inconscientemente de Vídeo. E Nocaute é um diálogo fantasioso entre o Popó e o Éder Jofre, é uma música bem antiga.
Procurado pela reportagem, o coordenador de música da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Jorge André Brittes, disse que a indicação ao Prêmio Açorianos foi feita pelos jurados, mas que o caso será avaliado:
– Levaremos a questão ao júri, send