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7 de janeiro de 2013

Com mudanças aprovadas em lei, Ospa pensa grande em 2013

via zero hora

Novo plano de carreira e avanço de obras de sala sinfônica inspiram objetivo de voltar a ser uma orquestra de ponta


Com mudanças aprovadas em lei, Ospa pensa grande em 2013 Jean Schwarz/Agencia RBS
Nova sala sinfônica tem inauguração prevista para fim de 2014 Foto: Jean Schwarz / Agencia RBS
Uma das principais orquestras da América Latina. É para esse objetivo que caminha a Ospa em 2013. Com um plano de carreira aprovado recentemente e o avanço das obras de sua sala sinfônica, a instituição espera retomar a grandeza que seu nome evoca.
A marcha é resoluta. Até abril, uma nova sala de ensaios, no Centro Administrativo, deve substituir a atual, improvisada em um dos armazéns do Cais do Porto. Também será reativada a escola de música da Ospa (que ensinará a 250 crianças e jovens prática e teoria de música orquestral). As notícias de maior impacto, no entanto, são o reajuste da remuneração dos músicos e a implantação de um plano de cargos, que cada vez mais se impunham como questões de sobrevivência para a orquestra que já esteve entre as maiores do país.
– Vínhamos perdendo músicos que iam em busca de melhores salários. E pior: sem condições de trazer outros, porque não havia condições de oferecer nada melhor do que outras orquestras – afirma o secretário de Estado da Cultura, Luiz Antonio de Assis Brasil, ele próprio músico da orquestra nas décadas de 1960 e 70.
Sancionada por Tarso Genro em 28 de dezembro de 2012 e publicada no Diário Oficial no último dia do ano, a lei 14.183 injeta ânimo na direção e nos 83 músicos da Ospa, ao instituir o plano de cargos e salários, o quadro novo de funcionários e as vagas que faltam tanto para a orquestra quanto para sua administração. Para o presidente, Ivo Nesralla, “foi o fato mais importante a acontecer com a orquestra”:
– Quando entrei na Ospa pela primeira vez, em 1983, essa demanda já era antiga. Busquei por anos esse plano, que agora foi possível graças ao empenho do secretário Assis Brasil e do governador Tarso Genro.
Diretor artístico da Ospa, o maestro Thiago Flores não tem dificuldade em enumerar algumas baixas:
– Hoje nos faltam cerca de 40 músicos. Duas harpas, quatro trompas, trombone baixo, duas flautas, um fagote e muita gente nas cordas.
O prejuízo pode ser traduzido em termos práticos. Para executar obras como a sétima sinfonia de Mahler, apresentada pela primeira vez em solo gaúcho em novembro, é necessária a contratação de cerca de 20 músicos – carência que em breve será passado.
Em janeiro, Flores e Assis Brasil esperam dar encaminhamento ao pedido de concurso para completar o quadro efetivo de 170 novos funcionários, entre músicos, professores, técnicos e analistas. A expectativa é de que em agosto seja realizado o processo seletivo – o passo definitivo para a construção de uma orquestra renovada para receber a nova casa, cuja conclusão está prevista para outubro de 2014.
Vitrine cultural do atual governo, a sala sinfônica é a menina dos olhos de Assis Brasil, que vê ali o espaço em que a Ospa poderá seguir cumprindo sua vocação de democratizar o acesso à música erudita, recebendo velhos e novos admiradores – e também aqueles para quem sinfonias são coisa de outro mundo:
– Tem pessoas simples que demonstram muito carinho pela sala. Encontrei um senhor que me disse uma coisa linda: “Olha, não gosto dessas músicas de enterro, gosto mais é de pagode, mas eu quero muito ver essa obra pronta para me orgulhar dela”.
Entre os músicos, a dobradinha plano de carreira e sala sinfônica forma uma realidade que só agora deixa de parecer miragem.
– A sala sinfônica parecia tão impossível quanto o novo quadro de pessoal – conta o tubista Wilthon Matos, presidente da Associação dos Funcionários da Fundação Ospa (Affospa). – Começamos a acreditar que, realmente, o Estado terá uma orquestra sinfônica de nível internacional dentro de uma sala que vai ser referência na América Latina.
Nova orquestra para a casa nova
– Será uma grande orquestra que dará muito orgulho para os gaúchos – aposta o maestro Thiago Flores.
Diretor artístico da Ospa, ele foi um dos pivôs – ao lado dos músicos, representados pela Affospa, do secretário de Estado de Cultura, Assis Brasil, e do governador Tarso Genro – do plano de carreira sancionado em dezembro por Tarso.
– Foi um trabalho árduo para montar alguma coisa que não precisasse ser mexida nos próximos 50 anos – explica o maestro.
O plano de carreira coroa um momento de renovação na orquestra, em que também despontam a nova sala sinfônica e melhorias – algumas sutis, outras radicais – que interferem de forma positiva no funcionamento da instituição. Os efeitos da transformação são sintetizados pelas palavras de Flores:
– Tendo uma boa estrutura administrativa, uma orquestra de alto nível técnico e uma sala sinfônica como essa, a Ospa vai ser uma orquestra de referência na América Latina, não há dúvidas.
Uma nova banda vai passar
Assis Brasil não lembra com exatidão o período em que tocou violoncelo na Ospa (“Entre 1965 e 73, 74, creio eu”). Mas recorda com asco a maneira como a profissão do músico era tratada pelo governo à época.
– Nos diziam: “Músico toca melhor com fome, olha só Mozart”. Coisas horríveis, que só eram possíveis durante uma ditadura.
A realidade da Ospa finalmente alcançou o trem da História. A lei 14.183 estabelece um plano de cargos que músicos e direção concordam estar à altura das principais orquestras do país.
– O plano representa um aumento de cerca de 50% nos salários – estima o presidente Ivo Nesralla.
Tão importante quanto o reajuste dos salários dos funcionários é a abertura de novas vagas. De 83 músicos que integram a Ospa atualmente, deve-se passar a 123. Estão previstas gratificações para os músicos que se tornarem professores da escola da Ospa e para aqueles que subirem de função. O concurso para completar o quadro, previsto para agosto, é o primeiro desde o governo Rigotto – e o mais atraente desde a fundação da orquestra, em 1950.
Thiago Flores adianta que devem vir candidatos de todo canto:
– Com a crise na Europa, tem fechado muita orquestra por lá. Tenho muitos contatos de gente que quer vir para cá fazer concurso.
Obra de sala sinfônica avança
Aguardada desde 2008, quando a orquestra abandonou o prédio do antigo Teatro Leopoldina, na Avenida Independência, a construção da Sala Sinfônica da Ospa é, finalmente, uma realidade. Atualmente, a empresa licitada finaliza a segunda etapa das fundações, processo delicado devido ao fato de o terreno estar localizado em zona de aterro.
– Esperávamos terminar em dezembro, mas por questões técnicas do terreno a empresa solicitou mais um mês – explica Assis Brasil.
Ivo Nesralla destaca o projeto da sala, segundo ele, crucial para o nascimento de uma nova Ospa:
– O projeto acústico de US$ 200 mil, com a sala toda revestida em madeira, vai nos dar a perfeita noção da acústica da orquestra – afirma. – Nossa sala foi projetada pelo mesmo arquiteto da Sala São Paulo. A Osesp só chegou ao ponto em que está por causa da sua sala sinfônica.
Segundo Assis Brasil, ainda em janeiro deve ser encaminhada a licitação para o restante da obra – a construção do prédio propriamente dito. Além da sala de concerto, o espaço vai abrigar salas de ensaio, um museu da música, a escola de música e a sede administrativa.
Suporte na área administrativa
A nova lei estabelece um número maior de cargos administrativos, que devem amenizar outro problema da Ospa: a carência do suporte necessário para uma orquestra que passa o ano rodando o Estado.
– Se não há administrativo competente e profissional, não se consegue dar suporte a uma grande orquestra e a uma fundação – aponta Thiago Flores. – Imagina que, a cada semana, se faz um concerto diferente. Preparar material para dezenas de músicos é extremamente trabalhoso.
Com o novo corpo técnico administrativo, de 38 profissionais concursados, e 21 cargos em comissão e funções gratificadas para funcionários de direção, chefia e assessoramento, é consenso de que a capacidade de trabalho da orquestra aumenta como um todo.
– Para a direção era muito difícil trabalhar. Ninguém podia ficar doente, tinha uma pessoa em cada setor – comenta Thiago.
Formação da nova geração
Desativada desde 2003, a antiga Escola da Ospa formou muitos dos músicos que hoje integram a orquestra. A sanção da lei 14.183 resgata o projeto de uma escola gratuita, que preste um importante serviço social e ainda garanta o futuro da instituição, atendendo 250 crianças e adolescentes. Trata-se de um dos pontos mais celebrados do texto aprovado.
– É o único local onde pessoas de qualquer classe social podem estudar música gratuitamente e ser profissionais – afirma o diretor artístico Thiago Flores.
Segundo Flores, as inscrições para a escola serão abertas em março, e as aulas devem iniciar no mesmo mês.
Do corpo de instrutores, 17 serão músicos da orquestra e quatro serão contratados para lecionar as disciplinas mais teóricas.
– Esses professores vão formar as futuras gerações de músicos, fora do ambiente acadêmico: trabalharemos para a formação de músicos de orquestra – explica Assis Brasil.
Para Wilthon Matos, a escola é o grande brilho do projeto:
– A Affospa fez pressão para que houvesse a escola. Teremos possibilidade de fazer vários concertos com orquestras jovens.
À medida que os alunos chegarem a determinado nível técnico, passarão a representar a Ospa em concertos no interior do Estado.
Atenção especial ao canto
Formado por 80 voluntários, o coro sinfônico da Ospa também será beneficiado pelo novo quadro, que inclui instrutores e pianista específicos para os coristas, e pela futura sala sinfônica, onde ensaiarão com suporte sem precedentes.
– Tínhamos um professor de técnica vocal, agora teremos quatro, um para cada naipe (soprano, contralto, tenor e baixo), dando muito mais atenção a cada cantor. Os resultados serão muito melhores, além de o coralista, sabendo que tem um bom professor, se sentir mais atraído – avalia Thiago Flores.
O tubista Wilthon Mathos, presidente da Affospa, lamenta que o desejo de que o coral de voluntários fosse incluído no novo quadro de pessoal não tenha sido atendido, por considerar que o grupo desempenha um papel importante em levar a música erudita a quem ainda não a aprecia, tornando-a mais acessível.
– O coral atinge um público muito maior do que a orquestra e não precisa de tanto aparato – justifica.
Assis Brasil lembra que essa realidade é comum a diversas outras orquestras.
– Claro, não dá para comparar nossa realidade com a de orquestras internacionais como a Filarmônica de Berlim, ou a Ópera de Viena, que dispõem de um coro profissional, em que todos ganham – pondera.
Agenda ainda mais cheia
O diretor artístico da Ospa, Thiago Flores, lembra que a Ospa já possui uma agenda bastante atribulada e diz que, a princípio, devem aproveitar o novo fôlego para investir em apresentações diferenciadas e incursões pelo interior do Estado.
– A Ospa faz uma média de seis concertos por mês. A ideia inicial é incrementar esse número em áreas como os concertos didáticos, em que pretendemos dobrar o número atual, de sete ou oito concertos ao ano para cerca de 15. Também queremos aumentar a presença no Interior para uns 20 concertos anuais – diz Flores.
Programe-se:> No próximo dia 14 de janeiro, a Ospa faz sua primeira apresentação do ano, no 3º Festival Internacional Sesc de Música, em Pelotas.
> Será um ensaio aberto, regido pelo maestro convidado Evandro Matté, da Orquestra da Unisinos, com a solista Emmanuele Baldini ao violino.
> A apresentação ocorre às 17h, no Theatro Guarany.