Postagem em destaque

Gestão 2009 /2014 combina com Gestão 2017/2019 a entrega do Blog e logo do CMC Porto Alegre

Dia 02/07/2019, às 19:30 h em reunião do CONSELHO MUNICIPAL DE CULTURA DE PORTO ALEGRE realizada na Casa dos Conselhos, sito Av. João P...

7 de janeiro de 2013

O desafio da Secretaria Municipal de Cultura

 
Teatro Antônio Hohlfeldt | a_hohlfeldt@terra.com.br

Teatro

Notícia da edição impressa de 04/01/2013

 

Quem acompanha o movimento cultural da cidade sabe que, neste último ano de 2012, a convite do então secretário municipal da Cultura, Sergius Gonzaga, integrei a equipe daquela instituição. Encerrado o período de oito anos em que Gonzaga liderou a SMC - primeiro a convite de José Fogaça, de quem ele era não apenas amigo pessoal mas identificado por ser Fogaça personalidade vinculada às artes -, Sergius Gonzaga foi confirmado na primeira gestão de José Fortunati.

Observei, logo que me integrei à equipe da SMC, que a secretaria possui verdadeiramente aquilo que se poderia denominar genericamente de políticas culturais muito bem estabelecidas e institucionalizadas, desde o tempo de Olívio Dutra, Tarso Genro e os que os sucederam. Foi a época em que se firmaram estas políticas. Mas, na verdade, elas não foram ali iniciadas. O recente lançamento de um livro em homenagem a Frederico Lamacchia Filho, ex-secretário municipal de Educação e Cultura, numa época em que a Cultura não tinha uma pasta própria, evidencia que, felizmente para a cidade, por muitas décadas foi-se constituindo um conjunto de práticas e normas que podemos denominar de políticas culturais, e isso, pelo menos desde os tempos do soprano Eny Camargo à frente da então Divisão de Cultura da Secretaria Municipal de Educação, quando se constituíram as temporadas de ópera (tudo isso se pode também recordar com a reinauguração do Auditório Araújo Vianna, construído na gestão de Sereno Chaise, que viria a ser interrompida com o golpe militar de 1964). Tive a sorte não só de assistir à montagem de Aída, no Araújo Vianna, com a Ospa, mas também de participar, como integrante do coral, das temporadas que se seguiram.

Com Frederico Lamachia, a Cultura ganhou iniciativas inesquecíveis, como a Tenda e o Carrossel de Cultura. Tendo em sua equipe gente como Luis Osvaldo Leite e Rosa Malheiros, Ivo Bender e Vaniá Brown, além de Irene Brietzke, criaram-se os Centros de Lazer e Recreação (Celar), desenvolvendo-se inclusive cursos em parceria com a Pucrs, do Irmão José Otão, liderados por Zilah Totta. Chegou a se ter como professor o renomado Joffre Dumazedier! Eu sei porque também estive naquela equipe e fui, inclusive, o primeiro tradutor de Dumazedier no Brasil.

Collares criou a Secretaria Municipal de Cultura, liderada por José Felizardo, e isso a cidade ficará devendo para sempre ao então prefeito. A secretaria evoluiu e com o PT descentralizou-se, cresceu, mas, infelizmente, partidarizou-se.

A primeira grande e positiva herança que deixa Sergius Gonzaga é ter despartidarizado a secretaria. Na atual SMC, ninguém policia o partido do funcionário: quer-se saber é da sua competência. Com isso, os coordenadores das diferentes áreas puderam ser indicados pela competência e reconhecimento entre pares, e não porque pertencem a esta ou àquela sigla partidária.

Na reunião de despedida e de prestação de contas, realizada há poucos dias, Sergius Gonzaga fez um surpreendente balanço - inclusive para ele mesmo - de seus oito anos de gestão. Sinteticamente, foram consolidadas ações já reconhecidas, dentre as quais o Porto Alegre em Cena e o Festival de Inverno; fortaleceram-se as atividades de descentralização e criaram-se dezenas de outras iniciativas, uma das mais recentes sendo o Festival Estudantil de Teatro. Cresceram os concursos: Carlos Carvalho, de dramaturgia, com apoio inclusive para a montagem do texto vencedor; de literatura, com publicação do texto ganhador etc. Ampliaram-se os editais do Fumproarte, e a ideia de Caco Coelho para a Usina das Artes mostrou-se acertada. Basta ver os premiados deste ano: quase todos os grupos localizam-se na Usina do Gasômetro. Construíram-se ou se recuperaram espaços físicos.

Por tudo isso, Roque Jacoby, que assume agora a SMC, tem um enorme desafio: já foi secretário de Estado da Cultura, no tempo de Germano Rigotto, e circula bem pela área. Mas há coisas novas no pedaço, para as quais ele deverá dar atenção, como o Núcleo de Economia Criativa, a continuidade do processo do Plano Municipal de Cultura, a constituição do Observatório de Cultura etc. Em nossa cidade, felizmente, a Cultura ocupa um enorme espaço político... felizmente, até aqui, despartidarizado. Torçamos para que tudo isso continue e se amplie. Porto Alegre precisa e merece.