Marco de
Menezes foi o primeiro poeta a ganhar o Livro do Ano, no Prêmio
Açorianos. Em 2010, “Fim das Coisas Velhas” foi eleito o melhor livro
de poesia e também o livro do ano.
Em entrevista à CLL, Marco conta como foram estes
dois últimos anos na sua vida literária. Das mudanças e agitos que a premiação
lhe trouxe.
CLL - Passados dois anos da grande conquista no
Prêmio Açorianos, o que mudou na tua vida literária? O reconhecimento traz
consigo uma expectativa maior?
Marco de Menezes - Foi muito importante ter ganho o
Açorianos, claro. Passei a ser lido por mais gente, acho, ainda que isso seja de
difícil mensuração. "Fim das coisas velhas" recebeu críticas positivas,
elogiosas porém profundas, contextualizantes. Teve uma segunda edição, que já
está esgotada também. O Município de São Paulo adquiriu um montante
significativo para distribuição e leitura nas escolas públicas de lá. E
expectativas sempre existem, endógenas e exógenas, é importante saber o que
fazer com elas, e elas são só isso: se espera algo de um lugar de onde já saiu
algo. Mas sempre estou certo de nunca ter a certeza do que possa vir pela
frente.
CLL - Tu achas que, a partir de 2010, quando
elegeram pela primeira vez um livro de poesia como melhor do ano, algo, dentro
da estrutura rio-grandense, mudou? É um motivo de alegria para os poetas
contemporâneos a ti?
MN - Espero sinceramente que sim, ainda que as
coisas com a poesia sejam muitas vezes fortuitas, assistemáticas, às vezes
enganadoras. Mas claro, fiquei feliz com a ousadia e coragem da comissão
julgadora em bancar a decisão para o lado da poesia - poesia nunca ter ganho na
categoria "Livro do Ano" em 15 edições do prêmio e então ganhar, acho que deixou
os poetas mais alegres, um pouco menos taciturnos. Poetas como Jaime Medeiros
Junior, Diego Grando, Sidnei Schneider, Ronald Augusto, entre outros, me
acolheram de forma bastante generosa, como amigos e parceiros mesmo, o que foi
estupendo. Assim como muitos leitores, pareceram ter ficado felizes com o prêmio
que, em suma, foi para a poesia mais do que para meu livro. Mas o velho sistema,
engessado, lá e cá range alguma aresta, não é algo em que se depositar alguma
confiança, são muitas as forças em jogo, há muita egolatria e
subserviência.
CLL - Foste finalista no Açorianos de 2011, essa
premiação tem um poder simbólico pra ti?
MN - Foi também importante esta indicação, uma vez
que "Ode paranoide", ainda que relativamente próximo de "Fim das coisas velhas",
me parece possuir menos estilhaçamento, mais contundência, e com isso possa ser
mais lido e criticado. E ter concorrido ao lado de poetas como André Dick e
Paulo Roberto do Carmo me deixou contente.
CLL - Sobre o livro digital, gostaríamos de
saber tua opinião, já que fazes parte de uma editora: tu achas que o livro
impresso está fadado a desaparecer?
MN - Não, não acho que vá desaparecer. Aliás, acho
que vai haver coexistência "pacifica" entre os dois formatos. Tenho lido alguns
livros no Kindle e a experiência tem se mostrado satisfatória. Não sou do time
dos que execram o livro digital. Inclusive, como editora, estamos fazendo o
possível para que nossos livros sejam, em breve, disponibilizados neste
formato.