Em afirmação durante reunião da comissão organizadora, diretor da entidade classificou evento como "favelão gaudério
Lara Ely
Afirmação polêmica levou o diretor do IGTF a deixar o cargo
Foto:
Arquivo pessoal / Arquivo pessoal
Em reunião da Comissão Municipal dos Festejos Farroupilhas com o
Corpo de Bombeiros sobre as condições anti-incêndio do Acampamento
Farroupilha, na semana passada, o diretor técnico do Instituto Gaúcho de
Tradição e Folclore (IGTF), Luiz Cláudio Knierim, comparou o
Acampamento Farroupilha, que acontece anualmente no Parque Maurício
Sirotsky Sobrinho, em Porto Alegre, a uma "favelão gaudério". A
expressão rendeu ao servidor público e professor a saída do cargo.
Em entrevista a Zero Hora, Knierim afirmou que sua crítica foi direcionada às condições de despreparo do parque em relação a riscos de incêndio, e não quis ofender a cultura gaúcha. Sua saída teria sido acordada com a direção da entidade para não prejudicar a instituição.
— Cumpri com meu dever de servidor público e alertei que no parque existe apenas um hidrante para o combate de incêndio — defende.
Rodi Pedro Borghetti, presidente da Fundação Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore (FIGTF), diz que um acordo foi feito para viabilizar a saída de Knierim do cargo e considerou inoportunda a afirmação de Knierim:
— Ele foi muito infeliz no seu pronunciamento. Nem o IGTF nem o governo concorda com o que disse. Trata-se do maior evento da cultura gaúcha, e o clima ficou desagradável.
O objetivo de Knierim de chamar a atenção para a necessidade de prevenção no local era válido, segundo o presidente da IGTF, mas foi expressado de forma incorreta. Borghetti argumentou ainda que os frequentadores do Parque Harmonia têm tido sorte de nunca ter ocorrido um incêndio de maiores proporções, afinal, transitam por lá mais de 1 milhão de pessoas todos os anos e faltam cuidados.
— Me lembro de épocas em que os bujões de gás estavam empilhados ao lado do braseiro. Mas hoje o assunto está ganhando maiores cuidados. Só não precisava dar essa esculacho — finaliza.
O secretário Municipal da Cultura, Roque Jacoby, que estava presente na reunião, avaliou o comentário como um "desprezo em relação à cultura gaúcha".
— Lamentavelmente ouvi essa expressão, quando os bombeiros passavam instruções às entidades envolvidas na comissão que coordena o evento. Me calei, mas ouve quem se manifestasse ao contrário — explica ele.
O motivo da reunião era justamente propor alternativas e discutir o risco de incêndio no Acampamento Farroupilha. Segundo Jacoby, em razão do incêndio da Boate Kiss, a organização e o Corpo de Bombeiros estão mais apreensivos este ano. Por isso, um treinamento foi realizado com cerca de 370 pessoas vinculadas ao acampamento. Haverá também uma equipe do Corpo de Bombeiros presente no parque, instalada durante todo o período das festividades, para caso de emergências.
ENTREVISTA
Luiz Cláudio Knierim, servidor público e professor de história
Servidor Municipal da Secretaria da Educação e professor de História, Knierim costuma ser convidado a dar palestras no Acampamento Farroupilha.
ZH — Você falou mesmo o que está sendo acusado? Por que disse isso?
Luiz Cláudio Knierim — Foi uma fala infeliz. Todo mundo na reunião usou essa fala, mas eu fui destacado. Depois disso, pedi demissão da comissão. Acertei com o Borghetti. Me retirei porque estava criando muita polêmica em cima do que era essencial. Renunciei como membro da comissão da semana farroupilha para não prejudicar nem o governo nem a instituição. A verdade é que faltam equipamentos para combater incêndios no parque. Essa informação não é apenas minha, mas do corpo de bombeiros.
ZH — Quais as suas críticas em relação ao Acampamento Farroupilha?
Knierim — Existe apenas um hidrante, não existem mangueiras que atendam a todos os quadrantes. Este é o problema central, Estão sendo construídos galpões de Santa Fé e isso é um risco. Fiz minha parte, dei o alerta, fiz meu papel. Se quiserem deixar assim, que corram o risco. Até hoje corremos um grande risco, com as ruas estreitas, as casas de madeira, o fogo de chão, a energia elétrica precária. Outro problema são os extintores. Eles só têm potência para usar em início de incêndio, mas não em incêndio de proporções maiores, como o que teve na Chocolatão, ao lado do parque.
ZH — E como ficou a questão das exigências?
Knierim — Os tradicionalistas que acampam ali seriam obrigados a adotar as condições para lidar com o incêndio. Aqui no acampamento tem um hidrante que fica no pavilhão novo - onde é o Centro de Eventos -, mas é justamente onde não tem tanto risco. Ali está o hidrante que tem bastante força de água, mas não tem mangueira suficiente para alcançar todos os piquetes. Na reunião, eu saí na defesa da posição dos bombeiros, que cobraram mais rigor no controle anti-incêndio. Mas sei que cumpri meu dever de servidor público.
Em entrevista a Zero Hora, Knierim afirmou que sua crítica foi direcionada às condições de despreparo do parque em relação a riscos de incêndio, e não quis ofender a cultura gaúcha. Sua saída teria sido acordada com a direção da entidade para não prejudicar a instituição.
— Cumpri com meu dever de servidor público e alertei que no parque existe apenas um hidrante para o combate de incêndio — defende.
Rodi Pedro Borghetti, presidente da Fundação Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore (FIGTF), diz que um acordo foi feito para viabilizar a saída de Knierim do cargo e considerou inoportunda a afirmação de Knierim:
— Ele foi muito infeliz no seu pronunciamento. Nem o IGTF nem o governo concorda com o que disse. Trata-se do maior evento da cultura gaúcha, e o clima ficou desagradável.
O objetivo de Knierim de chamar a atenção para a necessidade de prevenção no local era válido, segundo o presidente da IGTF, mas foi expressado de forma incorreta. Borghetti argumentou ainda que os frequentadores do Parque Harmonia têm tido sorte de nunca ter ocorrido um incêndio de maiores proporções, afinal, transitam por lá mais de 1 milhão de pessoas todos os anos e faltam cuidados.
— Me lembro de épocas em que os bujões de gás estavam empilhados ao lado do braseiro. Mas hoje o assunto está ganhando maiores cuidados. Só não precisava dar essa esculacho — finaliza.
O secretário Municipal da Cultura, Roque Jacoby, que estava presente na reunião, avaliou o comentário como um "desprezo em relação à cultura gaúcha".
— Lamentavelmente ouvi essa expressão, quando os bombeiros passavam instruções às entidades envolvidas na comissão que coordena o evento. Me calei, mas ouve quem se manifestasse ao contrário — explica ele.
O motivo da reunião era justamente propor alternativas e discutir o risco de incêndio no Acampamento Farroupilha. Segundo Jacoby, em razão do incêndio da Boate Kiss, a organização e o Corpo de Bombeiros estão mais apreensivos este ano. Por isso, um treinamento foi realizado com cerca de 370 pessoas vinculadas ao acampamento. Haverá também uma equipe do Corpo de Bombeiros presente no parque, instalada durante todo o período das festividades, para caso de emergências.
ENTREVISTA
Luiz Cláudio Knierim, servidor público e professor de história
Servidor Municipal da Secretaria da Educação e professor de História, Knierim costuma ser convidado a dar palestras no Acampamento Farroupilha.
ZH — Você falou mesmo o que está sendo acusado? Por que disse isso?
Luiz Cláudio Knierim — Foi uma fala infeliz. Todo mundo na reunião usou essa fala, mas eu fui destacado. Depois disso, pedi demissão da comissão. Acertei com o Borghetti. Me retirei porque estava criando muita polêmica em cima do que era essencial. Renunciei como membro da comissão da semana farroupilha para não prejudicar nem o governo nem a instituição. A verdade é que faltam equipamentos para combater incêndios no parque. Essa informação não é apenas minha, mas do corpo de bombeiros.
ZH — Quais as suas críticas em relação ao Acampamento Farroupilha?
Knierim — Existe apenas um hidrante, não existem mangueiras que atendam a todos os quadrantes. Este é o problema central, Estão sendo construídos galpões de Santa Fé e isso é um risco. Fiz minha parte, dei o alerta, fiz meu papel. Se quiserem deixar assim, que corram o risco. Até hoje corremos um grande risco, com as ruas estreitas, as casas de madeira, o fogo de chão, a energia elétrica precária. Outro problema são os extintores. Eles só têm potência para usar em início de incêndio, mas não em incêndio de proporções maiores, como o que teve na Chocolatão, ao lado do parque.
ZH — E como ficou a questão das exigências?
Knierim — Os tradicionalistas que acampam ali seriam obrigados a adotar as condições para lidar com o incêndio. Aqui no acampamento tem um hidrante que fica no pavilhão novo - onde é o Centro de Eventos -, mas é justamente onde não tem tanto risco. Ali está o hidrante que tem bastante força de água, mas não tem mangueira suficiente para alcançar todos os piquetes. Na reunião, eu saí na defesa da posição dos bombeiros, que cobraram mais rigor no controle anti-incêndio. Mas sei que cumpri meu dever de servidor público.