O homem que transformou decepções amorosas em alguns dos mais lindos versos
cantados pelo Brasil e pelo mundo afora, que transformava o conjunto paixão,
dor-de-cotovelo e boemia em músicas interpretadas pelos grandes nomes da MPB,
completaria 100 anos em 2014. Para comemorar o centenário de Lupicínio
Rodrigues, a Prefeitura de Porto Alegre lançou nesta quarta-feira, 20, o selo
“Lupi - 100 anos de amor e de dor”, que irá marcar as ações que serão
desenvolvidas ao longo do ano que vem em homenagem ao compositor. A programação
inclui roteiros que vão contar a história de Lupi, tanto em museus como pelos
bares da cidade, exposições e oficinas, apresentações de música e peças de
teatro, inauguração de uma escultura em tamanho natural e criação da Calçada da
Fama Gaúcha em frente ao Centro Municipal de Cultura Lupicínio Rodrigues, e um
espetáculo que deve trazer a Porto Alegre alguns dos nomes mais importantes da
MPB que gravaram suas canções. (fotos)
A homenagem emocionou os familiares de Lupi. “Em nome do meu pai, eu devo
dizer que a nossa família recebe essa homenagem em com muita alegria. Ele faria
100 anos em 2014, e não está mais aqui para comemorar conosco. Mas temos a sua
cultura, a sua história, a sua obra para fazer com que essa festa seja muito
bonita. E se eu tivesse direito a fazer um único pedido seria: pai, viva outra
vez!”, declarou emocionado Lupicínio Rodrigues Filho.
O prefeito José Fortunati destacou a importância de manter viva a obra do
mais gravado compositor gaúcho de MPB no Brasil. “A primeira música que aprendi
a cantar foi composta pelo Lupicínio Rodrigues. 'Até a pé nos iremos, para o que
der e vier' ”, brincou e cantou Fortunati. “Mas não só o Hino do Grêmio, como
grande parte das músicas escritas pelo Lupi está na minha memória e eu tenho
certeza que também está na memória da maioria dos brasileiros. Ele nos deixou um
legado incrível e é uma honra para o município de Porto Alegre fazer essa
homenagem. Nós temos que preservar a obra e a historia desse gênio da MPB”,
completou o prefeito.
O evento de lançamento do Centenário de Lupi foi realizado no Centro
Municipal de Cultura e reuniu músicos, artistas, produtores culturais,
familiares e amigos do compositor, autoridades e fãs. O secretário municipal da
Cultura, Roque Jacoby, convidou a comunidade a participar de forma ativa do
Centenário de Lupi. “O desafio que fazemos é que todos os porto-alegrenses se
integrem a essa festa. Queremos uma participação ativa da comunidade. Que todos
aproveitem para fazer a sua homenagem ao Lupicínio Rodrigues”, disse Roque
Jacoby.
O desafio foi aceito imediatamente. O publicitário e poeta Luiz Coronel leu
um poema que fez para Lupi. Confira:
Lupicínio Rodrigues
Lá vem o menino da Ilhota,
vem da Travessa Batista,
ninguém vê, ninguém nota
seu destino sambista.
Foi padioleiro, motorneiro,
foi Bedel da Faculdade.
Das musas se fez herdeiro,
o compositor da cidade.
Teve ouvidos confidentes
aos soluços da madrugada.
Nas rimas mais contundentes,
romances dilacerados.
Em todo canto de amor
havia espinho e veneno.
Cada verso era uma flor,
molhada pelo sereno.
O coração sempre atento
ao desalento dos bares.
Os vividos sofrimentos
se aninhavam nos cantares.
O mundo da gente humilde,
suas vidas, seus amores,
na batuta dos regentes,
na voz dos grandes cantores.
Foi parceiro das estrelas
e teve a lua por guia.
São mulheres, que ao perdê-las,
delas fez suas melodias.
Cantou também a campanha
em cantos de puro afago.
A Felicidade acompanha
a quem saboreia um Amargo.
Ah, se esses moços soubessem
o quanto viveu e sentiu...
Esse Bedel moreninho,
batucando caixas de fósforos,
incendiou, de paixão, o Brasil.
/cultura /musica
Texto de: Melina
Fernandes
Edição de: Manuel Petrik
Autorizada a reprodução dos textos, desde que a fonte seja citada.
Edição de: Manuel Petrik
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