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20 de outubro de 2013

A batalha da cultura na RESTINGA

Marcelo Gonzatto (textos)
Diego Vara (fotos)


Em uma região distante do centro de Porto Alegre, não existem salas de cinema, mas há cineastas. Não há teatro, mas se multiplicam atores e dançarinos. Se faltam casas de espetáculo, sobram músicos e artistas em busca de público.

Vindos de um cantão da Capital quase sempre lembrado pela pobreza e pela violência, lutam contra a falta de estrutura para serem reconhecidos pelo talento - muitas vezes, contrariando opiniões de que se devotar à cultura em meio à carência é "coisa de vagabundo". Se é difícil fazer arte no centro cultural e financeiro da cidade, é um milagre na Restinga.



Ainda assim, os artistas do arrabalde não apenas insistem em se dedicar a seus ofícios como vêm conquistando reconhecimento e destaque em premiações importantes. Eliminam a lonjura para o resto da cidade a passos de dança. Deixam de ser invisíveis projetando sua imagem na tela de cinema.

Os exemplos desse fenômeno suburbano se acumulam: entrou em cartaz, neste mês, o primeiro filme longa-metragem produzido por moradores da região. Em setembro, um time de bailarinas se consagrou nas primeiras colocações do Festival Sul em Dança, um dos mais importantes do Estado. O Prêmio Açorianos do ano passado destacou o grupo Restinga Crew e o programa Trabalhos Socioeducativos do Hip Hop.

Os bailarinos, poetas, músicos e criadores em geral dos confins geográficos da Capital não fazem parte de nenhum movimento organizado. São simples fruto da persistência em uma porção da cidade marcada, desde a origem, pela exclusão. A Restinga nasceu, no final dos anos 1960, devido a um processo de remoção de casebres das áreas mais centrais de uma Porto Alegre que queria se fazer moderna, mais "limpa" e ampla. Moradores foram transferidos para uma terra de ninguém, distante mais de 20 quilômetros do Centro.

- A Restinga surgiu por processo de exclusão, quando a cidade queria ser mais veloz e bonita, construir perimetrais. Assim, foi se consolidando um imaginário pejorativo sobre o bairro, calcado em uma ideia de assepsia urbana, de que a prefeitura estava limpando a cidade. As famílias foram levadas para o meio do nada. Não tinha absolutamente nada lá - conta a geógrafa Nola Patrícia Gamalho, que fez uma dissertação de mestrado sobre a região.

Hoje, parte dessas famílias e milhares de outras que vieram depois, graças a projetos habitacionais ou invasões de área, vivem em um bairro com dimensões de município. A prefeitura conta 60,7 mil habitantes, o que representa 4,3% da população porto-alegrense. Fosse uma cidade, seria a 36ª maior do Estado, comparável à população de São Gabriel. Os efeitos do desterro forçado, porém, ainda se revelam em dados negativos como a violência e a pobreza ? índices em que o bairro se sai bem pior do que a média da Capital.

A queixa de artistas e moradores é de que só são lembrados pelo lado ruim de sua história ou durante a semana de Carnaval, quando a tradição de seus sambistas chama a atenção de todo o Estado. Para além da precariedade social e dos festejos com data para acabar, querem mostrar que sabem criar - músicas, histórias, peças, coreografias e até um bairro do tamanho de uma cidade e nascido do nada.